Cerca de 55 mil pessoas assistiram à cerimônia
de despedida ao líder da luta contra o apartheid no estádio Soccer City
Johannesburgo. Dezenas de
milhares de sul-africanos de todas as raças e inúmeros chefes de Estado e de
Governo se despediram ontem, em uma cerimônia emotiva, mas cheia de cantos e
danças, de Nelson Mandela, o homem que venceu o regime do apartheid com uma
mensagem de reconciliação.
O presidente norte-americano
Barack Obama, o primeiro a discursar, cumprimentou o líder cubano Raúl Castro,
com quem trocou algumas palavras Foto: reuters
Em sua chegada ao estádio
Soccer City de Soweto, o presidente americano Barack Obama, o primeiro dos
presidentes a discursar, cumprimentou com um aperto de mãos os demais
convidados, entre eles o líder cubano Raúl Castro, com quem trocou algumas
palavras.
Esse foi o ponto alto de uma
cerimônia marcada por uma forte chuva e pelas vaias constantes da multidão em
direção ao presidente sul-africano Jacob Zuma.
Cerca de 55.000 pessoas
assistiram ao ato, mas se mostraram mais alegres e barulhentas nos arredores do
estádio e nos corredores, protegidos do frio.
Diário do Nordeste
O sentimento de presenciar um
momento único e histórico, como ocorreu no enterro de Mahatma Gandhi ou de
Yitzhak Rabin, atraiu milhares de pessoas, jornalistas e celebridades como Bill
Gates, Charlize Theron, Oprah Winfrey, Bono e Naomi Campbell.
"É um momento único, uma
experiência única na vida", declarou Cyrill Cameroon, um comerciante de
Johannesburgo, acompanhado por sua esposa Evelyn, da Costa do Marfim.
No discurso, Obama elogiou
Mandela como um "gigante da História", que conquistou seu lugar na posteridade
através da luta, de sua astúcia e mostrando o poder da ação política.
Raúl Castro recordou, por sua
vez, a amizade do líder sul-africano com seu irmão Fidel Castro e os vínculos
criados pelo apoio cubano aos movimentos rebeldes africanos. "Jamais
esqueceremos quando (Mandela) nos visitou em 1991 e disse que o povo cubano tem
um lugar especial no coração dos povos africanos", declarou Castro.
Washington e Havana não têm
relações diplomáticas desde 1961. Os Estados Unidos aplicam um embargo comercial
contra a ilha comunista desde 1962. No ano 2000, o então presidente Bill
Clinton e o líder cubano Fidel Castro apertaram as mãos na cúpula do milênio de
Nova York.
União
O secretário-geral da ONU, Ban
Ki-moon, muito aplaudido, destacou a capacidade de Mandela de seguir
aproximando, de maneira póstuma, personalidades e países adversos entre si.
Mandela "demonstrou a poderosa força do perdão e sua capacidade de unir o
povo" e hoje "fez isso novamente", declarou Ban.
O longo caminho para a
liberdade acaba em Qunu A cerimônia foi realizada no grande estádio de Soweto,
no qual Mandela fez sua última grande aparição pública, no dia 11 de julho de
2010, na final do Mundial de futebol, e começou com o hino nacional
sul-africano, "Nkosi sikelel´iAfrika" (Que Deus abençoe a África),
entoado com orgulho pelos presentes.
"Se o morto fosse uma
criança, o ambiente seria sombrio. Mas, com Mandela, celebramos uma vida
plena", explicou Jenny Pomeroy, uma sul-africana branca de 25 anos vestida
com roupas coloridas.
Também ontem ocorreu uma
pequena homenagem na prisão de Robben Island, onde Mandela passou 27 anos
detido, antes de ser libertado em 1990 para ser eleito presidente em 1994 e
guiar a África do Sul a uma transição pacífica do regime racista à democracia
multirracial.
"Quando saiu livre,
Mandela levou da prisão sua experiência de conviver com diferentes raças,
culturas e tendências políticas, para pedir a reconciliação", declarou na
cerimônia Lionel Davis, um ex-prisioneiro.
Além disso, na cela de 2,5 por
2,1 metros na qual passou 18 anos de sua vida está acesa desde segunda uma vela
que "simboliza o triunfo do espírito humano", declarou o diretor do
museu, Sibongiseni Mkhize.
Segundo um porta-voz da
família Mandela, Madiba com certeza estava sorrindo no céu ao ver a multidão
reunida para homenageá-lo. "No estádio há fortes e fracos, ricos e pobres,
poderosos e pessoas anônimas", assinalou o general Thanduxolo Mandela.
"Todos compartilham do
mesmo objetivo: honrar o herói da luta contra o apartheid e primeiro presidente
negro da África do Sul", acrescentou.
A celebração de ontem abre
cinco dias de homenagens antes do enterro, no próximo domingo em Qunu,
localidade onde Mandela passou uma infância feliz e que abandonou após a morte
do pai.
Dilma: líder foi o "maior
do século"
Johannesburgo Em discurso na
cerimônia de homenagem a Nelson Mandela, a presidente Dilma Rousseff disse que
o sul-africano foi uma "personalidade maior do século 20".
A presidente discursou em
português, para uma plateia desinteressada, talvez pelo fato de a tradução ter
sido feita em volume baixo Foto: Presidência da república
"Mandela conduziu com paixão e
inteligência um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano na
história contemporânea, o fim do apartheid na África do Sul", declarou
Dilma, em discurso de cerca de dez minutos.
Segundo Dilma, "o combate
de Mandela transformou-se em um paradigma não só para esse continente, mas para
todos os povos que lutam pela justiça e pela igualdade". A presidente
discursou em português, para uma plateia desinteressada. O sistema de tradução
simultânea para o inglês era muito baixo, tornando impossível sua compreensão
pelos anéis superiores do estádio FNB, onde se concentrava a maior parte do
público. Muitos aproveitaram o horário do almoço para sair de seus assentos e
buscar comida.
De acordo com Dilma, o
apartheid foi "a forma mais elaborada e cruel da desigualdade social e
política de que se tem notícia nos tempos modernos". O líder, para a
presidente brasileira, que lutou contra a ditadura militar no Brasil,
"inspirou a luta no Brasil e na América do Sul".
Dilma discursou como
representante da América do Sul e também na condição de integrante dos Brics,
bloco que reúne Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul. Também
discursaram representantes dos governos indiano e chinês.
IMAGENS DA CERIMÔNIA
Alegria e barulho
Com um público de cerca de 55
mil pessoas, o ato em homenagem a Mandela teve a alegria como sentimento
dominante, apesar da celebração ser a perda do líder sul-africano. A multidão
mostrava-se mais barulhenta nos arredores do estádio e nos corredores,
protegida do frio Fotos: Reuters
Mulheres de Mandela
A ex-esposa e a viúva de
Nelson Mandela, Winnie Mandela e Graça Machel (foto), tiveram recepção calorosa
na cerimônia de despedida. Abraçaram-se
Michelle "ciumenta"
Repercutiu ontem o flagra da
conversa animada de Barack Obama com a premiê dinamarquesa, Helle
Thorning-Schmidt. O que chama atenção é a cara de poucos amigos da
primeira-dama dos EUA, Michelle
Honraria
O arcebispo sul-africano e
Nobel da Paz, Desmond Tutu, disse sentir honra em participar das homenagens
Sem segregação
Negros e brancos se uniram em
um só sentimento, assim como pregava o líder: a igualdade de raças