Algumas memórias dos anos 2000 e do Rock em Camocim - Parte 1 - Revista Camocim

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

Algumas memórias dos anos 2000 e do Rock em Camocim - Parte 1

 



Santiago Pontes Freire 


A segunda metade dos anos 2000, acendeu na juventude camocinense o espírito do rock’n roll. Com a ascensão e consolidação de bandas nacionais e internacionais, além do desenvolvimento da rede mundial de computadores, se tornou fato comum enxergar essa tribo que ganhava cada vez mais adeptos. Naquele período, não era muito difícil chegar até a praça da estação e, nas calçadas da rádio União, encontrar um grupo de jovens com roupa preta, instrumentos musicais e skates, reunidos em prol de um estilo de vida único que chamava atenção, o visual, inclusive, sempre foi um traço distintivo relevante: coturnos, all-star, correntes, bermudas largas, cabelos moicanos, olhos pintados de preto, pulseiras e cintos com espinhos ou detalhes em aço ou metal, anéis, etc., eram traços marcantes deste grupo de jovens. 


A adolescência foi chegando e com ela, o espírito rebelde começou a se manifestar, assim como uma explosão de sentimentos e emoções típicas da idade. A tv globinho, sempre presente na programação, começava a compartilhar a atenção com o seriado Malhação, que passava ao final da tarde. Na abertura, “Vou te levar” e, posteriormente, “Lutar pelo que é meu”, da banda Charlie Brown Jr., levavam solos de guitarra e letras que instigavam ainda mais o estilo “largado”, porém, reflexivo, despertando a inspiração na escrita e prática instrumental. 


Os últimos anos do ensino fundamental na escola Alba Maria e o início do ensino médio no CEPI (entre os anos de 2006 e 2007) trouxeram novas amizades e habilidades ainda desconhecidas. Por influência do professor Emiliano Veras e da professora Nayane Juvêncio, escrevi um pequeno poema sobre a liberdade para participar de um concurso literário interno. No dia do julgamento, ouvi por entre os combobós da sala, o poeta R.B. Sotero dizer: “O poema desse Santiago é o menos pior, acho que o dele deve ganhar”. Naquele dia, não só me sagrei campeão no concurso literário, mas senti que as coisas que eu escrevia poderiam fazer sentido também para outras pessoas.


Foi então que um amigo, o Daniel, cujo apelido é Dominado, me deu uma importante e única aula de violão, o suficiente para eu seguir por conta própria. Dominado já havia feito isso com diversos outros amigos, como por exemplo, o Raul, neto da Dona Regina. Dominado recebeu a influência musical de um de seus irmãos, o que o tornou um guitarrista autodidata por excelência, cabendo a ele a tarefa de repassar esses conhecimentos para os demais. Sua paciência e humildade, pelo menos com a gente, rendeu bons frutos que, unidos ao talento de um rapaz baixinho que tocava bateria, o Ramon, deu início à nossa banda, que inicialmente se chamou “Aborto Punk”, mas que acabou se transformando em “Terminal Rodoviário” ou simplesmente “Terminal R”, como chamavam carinhosamente os nossos fãs (sim, tínhamos fãs). A Terminal R, durou cerca de 3 intensos anos, sendo presença marcante em eventos, festas e festivais. 


As assim chamadas “bandas de garagem”foram tomando forma em Camocim, pelo que a memória me permite lembrar, outros grupos foram entrando na cena como por exemplo: Septom, Muturo, Misericórdia, Anexo 05, entre outras. Os estilos eram bem variados, iam desde o pop rock até o metal pesado. Alguns integrantes participavam de mais de uma banda, hábito considerado comum e normal, desde que se conseguisse conciliar os horários dos ensaios. A partir desta união, surgiu o Camocim Rock Fest, um importante festival independente que reuniu os amantes do rock na cidade e região, revelando talentos que permanecem no mundo da música até hoje. A primeira edição do festival aconteceu nas dependências da AABB, na praia das barreiras, reunindo um público expressivo que hoje, talvez, se encontre carente (pelo menos é assim que me sinto), destes espaços e momentos alternativos que já marcaram época e fizeram história em nosso município.