Por Diego Santos (FOTO)
Religião e política, no mundo, desde os tempos mais remotos, sempre moraram na mesma rua. E daqui, de onde falo e escrevo, Camocim, lugar onde moro, percebo que ambas andam de mãos dadas e às vezes trocando farpas. No Brasil essa convivência é antiga e ultimamente cada vez mais barulhenta. O que antes era conversa de bastidores virou confronto aberto, nos púlpitos, nos palanques, nas redes sociais, nas mesas de jantar, nos bares e nas esquinas da vida.
E eu começo te perguntando, leitor e leitora, até onde as igrejas devem ir na política? E até onde a política pode entrar na Igreja?
Antes de responder à pergunta, é bom, caro leitor e cara leitora, considerar que é impossível ignorar que valores de fé como honestidade, compaixão, justiça podem e devem iluminar a vida pública. Quando vividos com sinceridade, esses princípios conseguem transformar a política num instrumento de cuidado e não de poder. Não são poucos os religiosos que se levantaram contra a corrupção, defenderam os pobres e enfrentaram leis desumanas. Isso é o Evangelho de Jesus Cristo em ação.
Mas vamos ser claros. Quando o púlpito vira palanque, o Evangelho corre risco. Fé não foi feita pra ser usada como cabo eleitoral. Quando um político se veste de crente só para arrancar voto, ele não só desrespeita a política, ele desonra o nome de Jesus. E quando uma igreja se mete a mandar no Estado, ela acaba mais cedo ou mais tarde sendo engolida por ele. O que hoje parece vantagem, amanhã vira armadilha.
O Brasil é um Estado laico e isso é bênção. Laicidade não é perseguição à fé, é garantia de liberdade. Liberdade para crer, não crer, mudar de crença, conviver. O Estado não pode ser refém de nenhuma religião, mas também não deve virar inimigo delas. O papel da fé na sociedade é enorme, desde que ela não queira tomar o lugar do Estado de Direito.
O equilíbrio é frágil, mas é necessário. Líderes religiosos podem, sim, participar da vida pública com ética, com responsabilidade, lembrando sempre que o poder não foi feito pra servir a um grupo, mas pra servir a todos. A fé pode inspirar boas leis, mas boas leis precisam proteger cada cidadão, tenha ele, fé ou não.
No fim das contas, o problema não é a fé tocar a política. O problema é quando o poder começa a sujar o altar. Porque quando a fé se dobra ao jogo do poder, ela deixa de ser sal e luz e vira moeda de troca.