Agente administrativo de Camocim publica artigo e denuncia salários miseráveis, falta de carreira, insalubridade ignorada e descaso da gestão - Revista Camocim

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Agente administrativo de Camocim publica artigo e denuncia salários miseráveis, falta de carreira, insalubridade ignorada e descaso da gestão

A Valorização dos Agentes Administrativos de Camocim‑CE: Um Passo Urgente pela Dignidade no Serviço Público



Sou Alef Divino, servidor público do município de Camocim-CE, como Agente Administrativo, há 7 anos (comecei em 2018). Venho acompanhando desde o início do exercício do meu cargo as dificuldades enfrentadas pelos servidores públicos da minha categoria. Diante da realidade salarial de nós, profissionais Agentes Administrativos, decidi expor minha opinião e protestar a favor de valorização e justiça.


Os Agentes Administrativos da Prefeitura Municipal de Camocim‑CE são profissionais essenciais, mais do que isso, são indispensáveis, para a máquina pública: desde o atendimento ao cidadão até a gestão de documentos e apoio às diferentes secretarias, como Saúde, Educação, Turismo etc. Contudo, a remuneração atual desses servidores encontra-se claramente e altamente defasada — um problema que prejudica tanto os trabalhadores quanto a eficiência dos serviços prestados.


Imagine o que seria de uma mãe que precisa levar sua filha ao médico e não ter um agente administrativo na recepção de um posto de saúde; o que seria da própria Prefeita de Camocim, Maria Elizabete Magalhães, se não houvesse quem digitasse os dados do que foi feito durante o mês sob sua gestão, cujo trabalho contribui para os altos indicativos de sua gestão? Sim, tudo começa com os Agentes Administrativos, a base do funcionamento administrativo público do município. Sem nós, Camocim-CE pararia desde a prefeita até os cidadãos, que são os mais importantes, os que pagam impostos e deveriam receber efetividade (serviço de qualidade aprovado pela população) em troca disso.


Quando os servidores públicos efetivos passam por um processo de seleção de concurso público, é exigido domínio de determinados tópicos, como, por exemplo, “Noções básicas de relações humanas no trabalho”, citado no edital do concurso público da Prefeitura de Camocim, em 2018 (044_AnexoII do Edital Nº 001/2018), será que a teoria que se estuda para uma prova de concurso público é aplicada na prática?


De acordo com Idalberto Chiavenato, em seu livro Administração Geral e Pública (2008), eficiência se relaciona com o uso dos recursos que temos disponíveis para atingir nossos objetivos. Um exemplo disso é o concurso público, processo no qual a Prefeitura de Camocim, por exemplo, seleciona os melhores candidatos para assumirem cargos públicos com a finalidade destes cumprirem suas atribuições. Ou seja, o concurso público é o melhor recurso de recrutamento de servidores públicos. De modo resumido, a eficiência está relacionada a utilizar os recursos da melhor forma, ao meio de se fazer e a fazer bem alguma tarefa, mantendo-se a qualidade.


Quando se inicia o processo de um concurso público é feito um edital, e diversos outros procedimentos para atingir o objetivo de selecionar servidores competentes, e nesse documento há, sim, os valores de vencimento e remuneração. Porém, quem diz que esses valores deveriam ser fixos? Defasados? Desestimulantes? Ou, até mesmo, sufocantes? Diversos estudos da Psicologia do Trabalho mostram que a valorização do servidor está diretamente ligada à motivação, produtividade e eficiência no ambiente organizacional.


Segundo o psicólogo estadunidense Frederick Herzberg, teórico da Teoria dos Dois Fatores, dois fatores referentes às condições de trabalho e relações interpessoais são responsáveis pela motivação e pelo engajamento dos funcionários: Fatores Higiênicos e Fatores Motivacionais.


Fatores Higiênicos: se refere às circunstâncias externas aos funcionários, estão ligados às condições do ambiente de trabalho e são diretamente definidos pela empresa. Por exemplo: condições físicas do espaço de trabalho; segurança do ambiente e entorno; clima e cultura organizacional; políticas administrativas e de recursos humanos; salário e benefícios; relacionamento com os colegas.


Fatores Motivacionais: está ligado à motivação do colaborador, pois têm relação com os seus objetivos profissionais e questões mais subjetivas. Por exemplo: funções desempenhadas; responsabilidades; autonomia no trabalho; reconhecimento; sentimento de crescimento profissional e pessoal.


A administração pública de Camocim-CE, entretanto, no caso dos Agentes Administrativos, peca muito nesses dois fatores, pois no caso dos Fatores Higiênicos não oferece uma boa remuneração (vencimento + benefícios) aos servidores da categoria em questão. É a prefeitura que paga a pior remuneração de um servidor público em todo território nacional. Apenas um salário mínimo, nada mais que isso.


À Prefeita Maria Elizabete Magalhaes (R$18.500,00), à Secretária de Saúde Emanuelle Canafistula Oliveira E Silva (R$ 10.000,00), coloquem-se no lugar dos seus colaboradores e respondam: vocês gostariam de passar entre seis e oito horas em um local desorganizado e desconfortável? Ou pelo o pior salário de um servidor público do Brasil? Arrisco dizer que não.


Sobre Fatores Motivacionais, o Poder Público nega reconhecimento da categoria, pois não há sequer um plano de carreira. Para se ter uma ideia, os Agentes Administrativos são cargos de nível médio, e há diversos cargos de nível fundamental que ganham mais (e, sim, com merecimento do cargo, e por causa de sua função), ou seja, há muita desproporcionalidade e falta de reconhecimento para uma categoria que administração nenhuma vive sem.


E ainda há na área da Saúde, Agentes Administrativos que trabalham em UBS (Unidades Básicas de Saúde) sem receber adicional insalubridades, locais onde os pacientes podem ir em busca de cura para doenças, como gripe, problemas de pele, tuberculose etc. E quem atende primeiro os pacientes? Sim, um Agente Administrativo. E não há sequer um adicional insalubridade, em locais que são em plena certeza insalubres.


E podemos nos lembrar o descaso da prefeita com esses profissionais que trabalharam na linha de frente na pandemia e jamais receberam adicional insalubridade, e não eram citados em suas falas sobre saúde nesse período tenebroso no qual a sociedade passou. Não eram apenas médicos, enfermeiras, técnicas em enfermagem que passaram dias perigosos naquele tempo. Quem atende primeiro os pacientes são os Agentes Administrativos, são eles que ficam próximos dos pacientes na sala de espera (como deve ser) e merecem, sim, um adicional insalubridade.


Mas há um descaso da atual gestão quanto a isso. Portanto, a valorização salarial não é apenas uma questão de justiça ou benefício pessoal. É também um investimento direto na qualidade do serviço público. Um agente bem remunerado sente-se mais respeitado, mais comprometido com sua função e mais disposto a buscar capacitação e aperfeiçoamento contínuo.


Servidores desvalorizados, ao contrário, tendem a adoecer mais, a perder o entusiasmo. Agora imagine trabalhar, no meu caso, 7 anos sem um aumento, e, no caso de outros, até há ainda mais tempos. Estamos falando do cargo mais desvalorizado de Camocim-CE? Pois, é pago a pior remuneração do Brasil. Ao menos do ponto de vista legal, ninguém deveria receber menos que isso.


Segundo Douglas McGregor, professor de Administração e teórico da Teoria X e Y, a Teoria X considera que o trabalhador tende à preguiça, precisa de supervisão rígida, controle e punição. Enquanto a Teoria Y defende que o trabalhador pode ser autodirigido, responsável, criativo, se tiver autonomia e um ambiente motivador.


Logicamente, a baixa remuneração remete aos malefícios da Teoria X, na qual os chefes acreditam que a remuneração fixada em um edital de concurso e manter esse salário sem atrasos porquanto que o trabalhador nunca falte já basta para ser motivo para um servidor público nunca protestar.


Infelizmente, Camocim-CE vive ainda no que se acreditava antigamente na psicologia do trabalho, chefes que não se importam com a saúde mental do trabalhador, que colocam acima de tudo resultados de indicativos, sem se importar com a saúde mental de seus servidores públicos, pois sabe-se que a ansiedade é uma das doenças mais comuns nos dias de hoje, e uma das causas de ansiedade é justamente sua situação financeira.


Quando o trabalhador recebe apenas um salário mínimo, sem chances de crescimento, e uma super desvalorização, principalmente por parte do topo da sua carreira administrativa, a administradora da cidade, a prefeita, as chances de ansiedade aumentar é enorme. A gestão nada faz pela saúde mental dos seus servidores públicos, seja qualquer cargo, qualquer categoria.


Infelizmente, a nossa atual gestão não concorda com a Teoria Y, a qual valoriza a responsabilidade do trabalhador, sua criatividade, sua autonomia e a criação de um ambiente limpo, organizado e motivador. Quantos servidores públicos brilhantes temos em nossa cidade, mas que não são valorizados? Quantos se esforçam para estudar, muitas vezes colocar esse estudo em prática, mas nunca são realmente valorizados, lembrados e elogiados?


Sim, existem muitos que fazem além de sua função, mas no final das contas, o salário é o mesmo, o local de trabalho é a mesma desorganização, papel e mais papel, em um mundo no qual a tecnologia está em alta. Sendo o Anexo II do Edital Nº 001/2018, exigia-se que o candidato a Agente Administrativo tivesse conhecimento no pacote Microsoft Office, mas na prática é que há uma certa resistência por parte de muitos a não usarem tecnologia, como planilhas de Excel ou algum recurso tecnológico que seja mais eficiente.


Pelo que vejo, presenciei e vivi, se você se esforça é trocado por aquele que não tem conhecimentos na prática, como alguém que usa planilhas de Excel ser trocado por alguém que usa folhas de papel para anotar entrada e saída de medicamentos. Tudo isso por que é mais difícil valorizar financeiramente aquele com mais conhecimentos? No final, para a atual gestão, o conhecimento é inválido para o serviço público? Isso é uma das formas de desvalorizar o servidor público que se esforça para colocar em prática conhecimentos que muitos que são contratados não procuram obter.


Não espero que esse texto faça alguma diferença, afinal de contas, aqui em Camocim-CE, no Instagram da Prefeitura, não se pode fazer uma reclamação se quer, pois seu comentário é excluindo, e a insistência faz você ser bloqueado de citar o Instagram da Prefeitura de Camocim-CE em qualquer comentário da rede social. Mais do que isso, no meu caso, não se pode reclamar da gestão da atual prefeita e marcá-la na rede social, pois sua equipe do Instagram bloqueou meu perfil. Isso poderia ser considerado uma forma de censura silenciosa? Pois, ninguém ver, ninguém enxerga, e os erros na cidade não são postos nas redes sociais de quem elegemos para ser representantes da nossa cidade.


Devemos lembrar que nossa prefeita é apenas mais uma servidora pública e deve ouvir nossas reclamações, sim. Mas eu gostaria muito que esse texto dessa coragem a muitos que deveriam reclamar, protestar, buscar seus direitos. Principalmente aos concursados que possuem estabilidade. Não é motivo um edital, como foi dito para mim, ter escrito que minha categoria receberá um salário mínimo que eu não deveria protestar contra isso. Ou que eu deveria apenas buscar o Sindicato dos Servidores Públicos de Camocim-CE, o qual nunca me ajudou e rejeitou me ajudar nisso.


Somos trabalhadores, e fazemos um trabalho indispensável para o público de Camocim e região, e até para todos moradores do Brasil que visitarem nossa cidade. Precisamos, sim, ser valorizados, porque a cidade pararia se não fosse por nós, Agentes Administrativos.


Recentemente, a Prefeitura Municipal de Tianguá-CE lançou um edital com duas vagas para Agente Administrativo com remuneração de R$2.200,00, ensino médio completo, 40 horas semanais, mostrando assim que há como você valorizar o servidor público, pois ele motivado vai fazer com que realize um ótimo atendimento, não se atrasa ao trabalho, diminuem os casos de ansiedade por estresse financeiro.


Por que Camocim-CE não consegue valorizar seus Agentes Administrativos? Falta de dinheiro? Falta de coragem de investir em seus servidores públicos? Ou algo a mais? Cadê nossos representantes na Câmara Municipal? Por que a pessoa que exerce o cargo mais alto do topo da administração não liga para a base? Afinal, nenhum deles conseguiria sobreviver com apenas um salário mínimo sem chances de crescimento.


Analisando um organograma (representação visual da estrutura organizacional de uma empresa ou instituição) dos cargos de Camocim-CE, percebe-se que Agente Administrativo está no mesmo nível hierárquico que Técnicos em Enfermagem, Agentes de Saúde, Fiscal Ambiental, Agente de Endemias, entre outros cargos de nível médio/técnico. Porém, há um descaso horrível perante os Agentes Administrativos da cidade, que há anos, muitos anos, não recebem aumento, nem há chances de crescimento, muito menos um plano de carreira, sendo que há outros cargos que recebem até mais que o dobro com apenas com o vencimento (salário base, sem adicionais).


Diante de tudo o que foi exposto, é urgente que a administração pública de Camocim-CE reveja sua política de valorização dos Agentes Administrativos. Não se trata apenas de reajustar um valor salarial, mas de reconhecer a dignidade de trabalhadores que sustentam a base do serviço público.


A valorização desses servidores é uma escolha política, uma demonstração de respeito à população que depende de um atendimento eficiente e humanizado. É preciso romper esse ciclo ridículo de desvalorização e silêncio.


Que este texto seja, ao menos, um convite à reflexão e à mudança, pois um município que não respeita seus servidores públicos, em especial os que estão na linha de frente da administração (a prefeita não está na linha de frente), compromete sua própria capacidade de crescer com justiça, dignidade e responsabilidade.



REFERÊNCIAS


CHIAVENATO, Idalberto. Administração geral e pública. Rio de Janeiro: Método, 2008.


HERZBERG, Frederick I.; MAUSNER, Bernard; SNYDERMAN, Barbara B. The Motivation to Work. New York: John Wiley & Sons, 1959.


MCGREGOR, Douglas. The Human Side of Enterprise. New York: McGraw-Hill, 1960.


MASLOW, Abraham H. Motivation and Personality. New York: Harper & Row, 1954.


PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMOCIMCE. Edital de Abertura do Concurso Público nº 001/2018, de 12 de janeiro de 2018. Camocim, 12 jan. 2018. Disponível em: https://www.cetrede.com.br/Concurso.aspx?id=1025


PREFEITURA MUNICIPAL DE TIANGUÁCE. Edital nº 001/2025 – Concurso Público para Agente Administrativo. Tianguá, 7 maio 2025. Disponível em: https://www.consulpam.com.br/index.php?menu=concursos&acao=ver&id=158


Referências com Explicações


CHIAVENATO, Idalberto.

Obra: Administração Geral e Pública

Editora: Método, 2008.


Nota: Essa obra existe e é uma das mais utilizadas em concursos e cursos de Administração e Gestão Pública. Chiavenato é referência nacional nesse campo.


HERZBERG, Frederick; MAUSNER, Bernard; SNYDERMAN, Barbara.

Obra: The Motivation to Work

Editora: John Wiley & Sons, 1959.


Nota: Esse é o estudo clássico que propôs a Teoria dos Dois Fatores. É uma das mais citadas na Psicologia Organizacional. Embora a versão original seja em inglês, há traduções e resumos acadêmicos em português.


MCGREGOR, Douglas.

Obra: The Human Side of Enterprise

Editora: McGraw-Hill, 1960.

Nota: É a obra onde McGregor apresenta as Teorias X e Y. Muito usada em cursos de administração, psicologia e gestão de pessoas.


MASLOW, Abraham.

Obra: Motivation and Personality

Editora: Harper & Row, 1954.

Nota: Essa é a obra principal de Maslow, na qual ele expõe a famosa Pirâmide das Necessidades Humanas. Também há versões em português e capítulos em apostilas de Psicologia do Trabalho.