O que era para ser um caso de atendimento médico virou um retrato brutal da falência ética, administrativa e humana de um sistema público local completamente apodrecido. José Elias, morador de Jijoca, com um tumor no cérebro e dores incapacitantes, afirma estar sendo ignorado pelo poder público simplesmente porque “não votou nas pessoas certas”.
No vídeo abaixo, a “vítima” relatou somente parte do seu drama, na luta pela sobrevivência. Em contato com o blog, o relatou foi mais profundo e detalhado.
José sobrevive hoje entre fortes dores de cabeça, noites sem sono e um sistema que só funciona para quem se ajoelha aos conchavos. Após sofrer um acidente, ele passou anos peregrinando por atendimentos no Hospital Gabriel Brandão de Sousa. Sempre o mesmo laudo: “não é nada”. Só quando decidiu pagar uma tomografia particular, veio a bomba: um tumor no cérebro, em estágio avançado.
Mesmo com o diagnóstico em mãos, José afirma ter sido empurrado de balcão em balcão. Do hospital foi mandado ao posto de saúde. Do posto, à Secretaria de Saúde. De lá, ao Dr. Maurício, que nunca apareceu. Procurou o prefeito Leandro César. Foi ouvido. Mas a resposta foi o silêncio. Ou pior.
“Mandaram eu esperar o Dr. Maurício. Não estava. Aí consegui falar com o prefeito. Ele perguntou se eu tinha votado nele. Como se isso fosse critério pra tratar um tumor na cabeça.”
A frase não é erro de interpretação. É denúncia direta, com nome e sobrenome. Segundo José, a pergunta feita a ele foi objetiva: “Você votou em mim?”
Como se doença tivesse lado político. Como se a vida valesse menos fora dos muros eleitorais.
O caso vai além do abandono. Toca no coração da corrupção política mais rasteira: a saúde transformada em moeda de troca. José diz que trabalhou em uma das campanhas do prefeito Leandro César há quatro anos. O pagamento? R$ 7,50 por dia e o desprezo depois da vitória.
“Trabalhei a campanha toda. Hoje o que recebo é desprezo. Se fosse época de eleição, minha cirurgia já estaria feita.”
Nem mesmo figuras públicas escaparam da guilhotina do silêncio. Segundo ele, a vereadora Bené, que tentou levantar a voz, também foi colocada pra fora. Ignorada, silenciada, escanteada do jogo político local. “Tiraram até ela do caminho. Imagina o que não fazem com gente como eu.”
José foi mandado para Fortaleza. Chegando lá, ouviu o que já sabia: não podem fazer nada, porque o prontuário dele pertence a Jijoca. Trancado num limbo burocrático e político, ele vive uma espécie de prisão de papéis e conivência. O tumor cresce. A dor não dá trégua. E o sistema fecha as portas.
“Tudo é comprado. Tudo. Até o silêncio. Até o direito de respirar. Quem não tem lado político, não tem direito a nada.”
As palavras de José não são apenas um desabafo. São uma acusação séria, pública, nominal, sobre o que se tornou a máquina pública de Jijoca: um campo de batalha onde só sobrevive quem se curva. Onde prontuários viram armas. Onde vidas são punidas por escolhas eleitorais.
Enquanto isso, um tumor cresce na cabeça de um homem. E com ele cresce também a vergonha de um município onde política virou sentença de morte.
Carlos Jardel