Planetário Games - Revista Camocim

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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Planetário Games


Por Santiago Pontes


No final dos anos noventa, para o início dos anos 2000, a juventude que habitava nos arredores da praça da rodoviária, no centro de Camocim, tinham um ponto de encontro, para além das brincadeiras na rua que incluíam jogos de bila, pião, pega-pega, esconde-esconde, carimba, garrafão e as partidas de futebol que arrancavam os tampos dos dedos: ir até o Planetário para jogar vídeo game. 


Planetário Games era o nome da empresa cuja proprietária era dona Regina Xavier, uma mulher doce, acolhedora e responsável que sempre tratou seus clientes como verdadeiros filhos, sobrinhos ou netos. Dona Regina, como era chamada por todos, criou um ponto onde alugava vídeo games. 


Pelo tempo que me entendo por gente, enquanto criança, estava eu aperreando minha mãe ou minha avó por 25 centavos que conseguia alugar o modelo Nitendo, ainda na fita, por meia hora. 50 centavos proporcionavam 1 hora. De vez em quando, raramente, para ser mais sincero, aparecia 1 real, então a gente conseguia jogar uma hora, comprar uma garrafa de tabajara, que custava 25 centavos e um enroladinho ou chilito grande, que também custavam 25 centavos cada. A sensação era de que estávamos ricos, pois somente os meninos maiores que já trabalhavam, ou os filhos dos elitizados que mesmo tendo vídeo game em casa iam jogar lá, conseguiam repetir com frequência o jogo e ainda sair de barriga cheia. Lá, era proibido matar aula lá, Dona Regina enredava para as mães. 


Nos dias de liseira extrema, os meninos ficavam arrodeando e encostavam em quem jogava para oferecer uma ajuda, passar de fase, fazer um gol... Às vezes as almas bondosas pediam que dona Regina trouxesse outro controle, aí a festa era garantida, afinal, o objetivo havia sido alcançado. 


Certa vez, estava eu e meu irmão, Lucas, na época Luquinhas, com as mãos coçando e os olhos lacrimejando para jogar, mas o dinheiro não estava fácil. Resolvemos então ir até a rodoviária onde nosso tio Marcos estava bebendo com uns amigos no Cochicho, um antigo bar que era gerenciado pelo primo Luiz Carlos. Chegando lá, meu irmão falou bem alto: “Tio Marcos, me dê 1 real pra eu jogar vídeo game na Dona Regina!”. Meu tio deve ter ficado com pena e como todos os amigos dele estavam ali, se levantou e tirou do bolso 5 reais para dividir entre mim e Luquinhas. Nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida. 


Chegamos na locadora, cada um foi para um vídeo game diferente, botamos uma hora cada, pedimos tabajara, chilito e salgado e pela primeira vez na vida conseguimos repetir essa sequência dizendo a frase que sempre quisemos falar: “Dona Regina, bote mais meia!”. Poderíamos ter colocado uma hora a mais logo de cara, mas só para dizer a frase, colocamos 2 vezes a meia hora. 


De vez em quando, Dona Regina colocava uns meninos para ajudar no trabalho, pois o número de vídeo games havia aumentado e surgiram os computadores na chamada “Lan House”, onde foi construído uma parede de vidro por conta dos ar-condicionados instalados. Do que a memória permite resgatar, lembro do Régis, Zé, Marquinhos, Jorge, Amorim, Joaquim, Neto, Aluísio e Inácio, que trabalharam durante certo tempo no Planetário, sendo os dois últimos, aqueles que duraram mais. É importante ressaltar que no dia do nosso aniversário, Dona Regina dava uma hora grátis. Tinha menino que aniversariava umas 3 vezes por ano. 


Hoje, quase 30 anos depois, o Planetário pode não existir mais fisicamente, mas tenho certeza de que ele permanece vivo nas mentes e nos corações de todos aqueles que viveram os melhores dias da infância aos cuidados de Dona Regina sob a diversão dos games. 


Santiago Pontes Freire Figueiredo

Professor Mestre em Filosofia

Atual Presidente da Academia Camocinense de Ciências, Artes e Letras