Camocim entre as 11 cidades do Ceará a sofrer impactos com o avanço do mar - Revista Camocim

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quarta-feira, 16 de março de 2022

Camocim entre as 11 cidades do Ceará a sofrer impactos com o avanço do mar

Moradias, economia e animais sentem o problema



O medo de ter suas casas invadidas pela ressaca do mar, cujo sentimento foi vivenciado no ínicio deste mês por moradores da cidade litorânea de Icapuí, no extremo Norte do Ceará, não é uma realidade exclusiva daquela população. Segundo estudo da Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Estado, pelo menos 26 praias do litoral cearense estão sob ameaça do avanço do mar.


Para o geógrafo, doutor em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP), e professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC, Paulo Sousa, os principais problemas advindos dessa erosão costeira são, sobretudo, de ordem econômica.


Cidades cujo problema já foi identificado:


  • Camocim,
  • Jericoacoara,
  • Acaraú,
  • Flecheiras,
  • Paracuru,
  • Caucaia,
  • Fortaleza,
  • Icapuí,
  • Aracati,
  • Beberibe,
  • Fortim,

Contudo, acrescenta o especialista, "[os impactos] dependem muito da infraestrutura que está em risco: comunidade de pescadores, zona portuária, hotéis e resorts, etc. Estes impactos afetam a área geográfica que tangencia o oceano levando à perda de sedimentos e ao recuo da linha de costa".


A oceanógrafa e mestra em Engenharia Costeira e Oceânica, Larissa Leite, reforça que outro grande impacto relacionado a esse problema "é a falta de segurança estrutural enfrentada pelas populações que vivem nas cidades ou comunidades litorâneas".


Ela alerta ainda que, se o avanço do mar não for contido, "muitas faixas de praias podem desaparecer, impactando os animais que necessitam da faixa de praia para se reproduzir, como por exemplo as tartarugas marinhas".


Parte desses impactos já é presenciado em Icapuí. O integrante do Sindicato dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Icapuí, Tobias Soares, revela que, diante da ressaca do mar, pescadores artesanais têm identificado diminuição dos peixes. "Antes se pescava mais perto da costa, hoje [o pescador] tem que ir bem mais longe para encontrar os peixes", diz.


Outro problema apontado por ele, é o dano causado às casas que margeiam o litoral. "Muitas aqui já foram destruídas. Tem até escola que ficou só as ruínas. Antes o mar estava longe, a uns 2 km dessas construções, hoje quando a maré sobe, já atinge a parede dessas casas. Não fosse essas barreiras de contenção construídas, estaria pior", acredita.


A reportagem do Diário do Nordeste demandou todas as cidades citadas nesta reportagem. No entanto, não houve retorno.


Causas e consequências


Mas, afinal, o que causa esse avanço do mar sob a faixa de areia? O geógrafo Paulo Sousa aponta que as causas deste problema são complexas, mas destaca como um dos principais a ocupação desordenada nas proximidades do oceano, "sem levar em consideração a área de atuação dos processos costeiros".


O avanço do mar tem diversas causas como atividades que afetam a disponibilidade e transporte de sedimentos. Em geral, [as causas] são uma associação de fatores. Além disso, o aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas promove o surgimento e agravamento da erosão costeira.

PAULO SOUSA

Geógrafo e doutor em Oceanografia


O coordenador Científico do Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, da equipe do Programa Cientista  Chefe Meio Ambiente (Funcap/Sema/Semace), Eduardo Lacerda Barros, acrescenta que a erosão possui um mix de causas naturais, somadas as antrópicas, isto é, causadas pelo homem. 


Os números dão a dimensão da gravidade do problema no Ceará. Segundo Eduardo Lacerda, dos 573 km de litoral cearense, cerca de 30% já apresentam erosão ou avanço do mar, outros 17% estão com tendência.


"Se somarmos estas duas porcentagens, teremos quase a metade do nosso litoral com um cenário caótico e preocupante em relação a esse tema", alerta Barros. Estes números são de um estudo realizado pelo Programa Cientista Chefe Meio Ambiente em 2018, o mais recente em vigência no Estado. 


Larissa Lopes detalha que esta grande porcentagem de litoral ameaçado ou que já sofre com a problemática, está relacionado, além dos fatores já citados pelos especialistas, também pela aceleração das mudanças climáticas globais.


"O aumento do nível do mar tem sido um problema enfrentado em várias partes do mundo", adverte a oceanógrafa. "No litoral cearense existem alguns estudos em pontos específicos em que o avanço do nível do mar, decorrente principalmente da erosão costeira (déficit de sedimento na praia), vem causando problemas estruturais em cidades litorâneas, como por exemplo na Praia de Icaraí, no município da Caucaia".


O secretário de Infraestrutura de Caucaia, André Daher, antecipa que foram contratados "estudos ambientais com o objetivo de implementar 11 espigões ao longo da Costa de Caucaia, contemplando posterior engorda da faixa de praia e proteção de encostas".


Segundo o gestor, essa medida "vai resolver a problemática de maneira definitiva". Além da Praia de Icaraí, as praias do Pacheco, Iparana e Tabuba também sofrem com a erosão e avanço do mar. Elas serão igualmente contempladas no projeto de melhoria que será gerido pela Prefeitura em parceria com o governo do Estado.


Problemas no litoral de Caucaia


André Daher explica que a dinâmica costeira no Município, envolve, entre outros fatores, "o vento, as ondas, as marés, as correntes costeiras, o transporte marítimo de sedimentos e o transporte eólico das areias". Segundo ele, quando há qualquer alteração em um desses fatores "pode provocar consequências desastrosas para o equilíbrio natural da zona costeira".


Um desses danos é um possível desaparecimento da praia, que acarreta sérios impactos socioambientais, "como a perda da infauna sedimentar, diminuição drástica de organismos bentônicos, diminuição da pesca artesanal, diminuição da área de ancoradouro de pequenas embarcações (jangadas), desaparecimento de atividades de lazer e recreação, e redução da geração de renda", completa o titular da Secretaria de Infraestrutura.


Somente no passado, a assessoria de comunicação de Caucaia afirma que o Município já investiu "aproximadamente R$ 2 milhões com o enrocamento de pedras, recuperação e melhorias viárias". 


Ações 


Para reverter este cenário, Paulo Sousa sugere existir "diversas formas", entretanto, acrescenta o especialista: "quaisquer uma delas deve levar em consideração a circulação hidrodinâmica nas proximidades da costa. Assim, ações de monitoramento dos processos costeiros (ondas, correntes, marés e ventos) e da morfologia da praia (alterações na forma da praia) são fundamentais para subsidiar a gestão e a tomada de decisão do litoral".


O professor do Labomar explica ainda ser necessário ir além de ações preventivas e de adaptação aos impactos das mudanças climáticas. "Em geral, o que acontece é a implantação de obras em caráter emergencial quando o problema já está em curso e isso pode acarretar na migração da erosão para a praia adjacente ou mesmo no agravamento do problema", critica.


Políticas de ordenamento territorial são ferramentas de destaque para lidar com o problema e prevenir danos à infraestrutura urbana e impactos econômicos. Fomentar a pesquisa científica, considerar o posicionamento ambiental de políticos e ouvir suas propostas para o meio ambiente são ações que podem ajudar a lidar melhor com o problema.

PAULO SOUSA

Geógrafo e docente


Para Larissa Leite, há alternativas locais para conter a erosão costeira em áreas urbanizadas. Conforme avalia, a intervenção realizada seria de acordo com as características de cada área.


"Por isso é de extrema importância um estudo para caracterização do local para assim propor o melhor tipo de obra de acordo com a região", detalha. Alguns exemplos são aterros, construção de espigões e recifes artificiais.


De forma concreta, algumas ações já estão em execução no Ceará. Eduardo Lacerda Barros, como o monitoramento de toda a costa cearense. 


Diário do Nordeste