Derrubada da Associação dos Retalhistas: apesar da perda arquitetônica, ganhamos com o debate público - Revista Camocim

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Derrubada da Associação dos Retalhistas: apesar da perda arquitetônica, ganhamos com o debate público



Por Paulo Emanuel Lopes*


Muitos de vocês, leitores dos blogs da cidade, devem estar sabendo que eu fui convidado pelo empresário Antonio Filho para escrever um livro contando a história da Associação dos Retalhistas de Camocim. O convite para o trabalho surgiu após publicação do artigo “Cidade sem memória, povo sem dinheiro”, que saiu aqui, no Revista Camocim, dia 20 de agosto deste ano.


 LEIA: Cidade sem memória, povo sem dinheiro .Clique  AQUI 


O texto foi uma crítica à derrubada do prédio. Embora não fosse um patrimônio “histórico”, ou seja, não houvesse sido tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, órgão do Governo Federal que zela pela riqueza imaterial do País, certamente fazia parte da memória afetiva da cidade. Da minha, pelo menos, fazia - e pela repercussão negativa que a derrubada rendeu, certamente o lamento correu por outras casas em Camocim.


Acontece que vivemos tempos de debates muito superficiais. As pessoas são Lula ou Bolsonaro, esquerda ou direita, céu ou inferno, branco ou preto, quando sabemos que há inúmeras gradações de maldade e bondade, ou infinitos tons de cinza. Muitos correram para criticar o empresário, e até mesmo a prefeita Betinha, que é historiadora. Houve até quem aproveitou a onda de indignação para se promover politicamente.


Mas o fato é que, embora possa ter sido imoral, a derrubada daquele prédio não foi ilegal. Não havia legislação municipal que o protegesse. Então, se fosse para culpar alguém, que não fosse apenas a Prefeita ou o empresário, mas também os vereadores de Camocim, que são os responsáveis pela proposição e aprovação de leis que protegem os interesses da cidade. Ou o Governo Federal, que não trouxe o IPHAN a tempo. Ou a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, que não manifesta interesse especial pelo patrimônio histórico de Camocim, uma das cidades mais antigas do Estado.


Mas não só. Se Camocim não possui legislação que defina claramente quais prédios podem ser derrubados ou não, a culpa maior é nossa, sociedade civil do Município, que nunca se interessou em cobrar de nossos políticos a proteção ao nosso patrimônio histórico-arquitetônico. Por que Sobral zela tanto pelo seu centro histórico? Certamente não é porque os políticos de lá acham bonitinho, mas porque são cobrados pelos cidadãos. É aquela história: antes de criticarmos o outro, é importante olharmos primeiro a trave que está em nossos olhos.


Uma semana após a derrubada do prédio da Associação, foi demolida uma esquina muito bonita na rua do antigo cabaré Terra-e-Mar. Ninguém nem ouviu falar, eu sei porque moro próximo. Chamou atenção também a falta de interesse nos antigos armazéns da família Coelho, que também tinham valor histórico e afetivo para a cidade. O entorno da antiga estação não é preservado como merecido. A cidade ainda não acordou para o ouro simbólico que reside em suas antigas paredes.


Aí reside o papel fundamental do Jornalismo na sociedade. Nenhum político está cobrando a proteção ao nosso patrimônio histórico, mas eu estou aqui, batendo nessa tecla mais uma vez: cidade sem memória, povo sem dinheiro! Não é só porque eu acho bonito manter conservado o centro histórico da cidade. Eu o defendo porque nossa cidade é muito rica, histórica e culturalmente falando, e isso é um importante fator na atração de turistas!


É por isso que aqui, publicamente, eu elogio o esforço do empresário em buscar compensar a derrubada daquele prédio. Outro talvez dissesse: estou nem aí para as críticas, não estou contra a lei e pronto. Mas ele teve a sensibilidade de perceber que a lei não é tudo na vida. Às vezes, é preciso ver o que os outros não veem. É preciso estar onde outros não querem estar. É necessário estar atento para onde os ventos sopram.


*É Jornalista e Publicitário. Escreve às sextas.