Cidade sem memória, povo sem dinheiro - Revista Camocim

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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Cidade sem memória, povo sem dinheiro



Por Paulo Emanuel Lopes*


Estou terminando de ler a coleção Terra Brasilis, do jornalista e escritor Eduardo Bueno. A obra, que já vendeu mais de um milhão de exemplares (tremenda façanha para um País de pouca leitura como o nosso!), reúne 4 livros e narra, em detalhes, o início da colonização (leia-se exploração) do Brasil. Eu torcia para ver o nome do nosso Camocim. Afinal, nossa cidade é um porto antigo, dada localização privilegiada na foz do Coreaú.


Escrita por um jornalista, a coleção é gostosa de se ler e vem ajudando a popularizar nossa história. E isso é muito positivo! Afinal, se porventura podemos questionar a ética de um jornalista fazer trabalho de historiador, cito frase de uma de suas camisetas temáticas: "povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la".


Demorou mas encontrei! Foi no 3º livro, “Capitães do Brasil”, quando Bueno cita o abandono da capitania do Ceará por seu donatário. Como sabemos, Antônio Cardoso de Barros nunca tomou posse dessas terras. Além de não apresentar riquezas como ouro e prata, a costa que vai do Rio Grande do Norte à Amazônia era povoada por índios ferozes e com ventos que empurravam naus e caravelas sempre no mesmo sentido: barcos que aqui chegassem iam parar no Caribe.


Pois bem, Bueno cita a hipótese de um historiador que defende que Antônio Cardoso de Barros teria sim investido no Ceará! E a primeira povoação europeia em nosso Estado teria sido… em algum ponto do Rio Coreaú adentro, entre as atuais Camocim e Granja! Acontece que essa é apenas uma hipótese, sustentada pela descoberta de ruínas. Como jornalista (e curioso) que sou, claro que eu fui atrás de tirar essa história a limpo. E sabia exatamente a quem perguntar.


Para algum desavisado que ainda não o conhece, o professor Carlos Augusto Pereira dos Santos é um dos principais intelectuais de Camocim. Sua carreira acadêmica começou em 1990, quando graduou-se em Sociologia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), instituição na qual leciona; possui mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); doutorado em História do Norte e Nordeste do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); pós-doutorado em Estudos Culturais pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ; e como se ainda tivesse uma pendência, graduou-se no ano de 2015 em História.


Pois o encontrei esta quinta, 19, caminhando pela 24 de maio. Parei e perguntei a ele. Apesar da intromissão em seus compromissos, acho que ele gostou. Afinal, não deve ser todo dia que algum transeunte o aborda na rua com dúvidas sobre história do Brasil.


Perguntei ao professor sobre essa teoria do donatário ter vindo ao Ceará e instalado-se em Camocim. Ele me explicou que essas ruínas encontradas são realmente muito antigas, mas provavelmente do século XVII, ou seja, posteriores ao regime de Capitanias Hereditárias. Elas foram construídas por franceses ou, mais provavelmente, por holandeses. A razão é que os franceses só vieram ao litoral brasileiro em busca de aventuras e trocas comerciais, enquanto que os holandeses tiveram como objetivo povoar e tomar posse da região, me explicou.


Mas, mais importante do que a discussão em torno do Cardoso de Barros é observarmos como nossa Camocim tem uma história rica. E fazendo um paralelo com a contemporaneidade, a derrubada do prédio da Associação dos Retalhistas (foto) nos mostra como não valorizamos esse potencial comercialmente.


Explico: praia, sol, coqueiros, dunas, lagos, caranguejo, peixada, passeio de buggy… Sim, nossa cidade é abençoada, mas quantas outras milhares de praias, por todo o mundo, não possuem este mesmo potencial turístico? Então, para vencermos essa concorrência, qual deve ser nosso diferencial? O que tem em Camocim que só tem aqui? Vamos continuar sendo aquela “praia ao lado de Jeri”? Guriú, Tatajuba, Lago Grande vão continuar sendo vendidos como passeios de Jericoacoara?


As belezas naturais são nosso forte. Mas como gestor da “marca” Camocim eu procuraria diferenciar-me, agregando à cidade outros benefícios ao turista, como a riqueza de nossa história e patrimônio arquitetônico. O que sobrou, ao menos.


Parafraseando Bueno, “um povo que não valoriza sua história acaba sem um puto no bolso”.


*É jornalista e publicitário. Escreve às sextas.