Por Paulo Emanuel Lopes*
Desço a Benjamim Constant e chego ao cruzamento com a avenida Beira-mar, aqui em Camocim, onde sinto cheiro de mangue. Paro a bicicleta para ver se vem carro, não vem, e sigo meu trajeto dobrando à esquerda, sentido Farol. Vejo barcos sendo construídos em um pequeno estaleiro autodidata, enquanto espécie de espelhos arenosos refletem a luz solar, do outro lado de um verde e ventoso Rio Coreaú.
Estamos vivendo uma pandemia, mas não deixo de pedalar quase diariamente. Vou só, sempre preferi assim, e com isso garanto minha saúde mental. Não à toa, os decretos do Governo do Estado mudaram, para permitir que as pessoas possam exercitar-se em áreas abertas.
Quando eu morava em Fortaleza, corria dentro do meu próprio condomínio! Certo que é amplo, mas a gente fica limitado. Para andar de bicicleta, eu tinha que andar entre os carros. Depois que o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) implantou várias ciclovias na cidade, passei a fazer um bom trajeto urbano. Ou seja, como vários fortalezenses o fazem diariamente, me exercitava em meio à poluição dos carros.
Aliás, quem observou o potencial do ciclismo em Camocim foi a vereadora dona Lúcia, do PDT, que esses dias solicitou, via requerimento à Câmara, que a Prefeitura construa uma ampla ciclovia/ciclofaixa na cidade.
Aqui na terrinha, minha companhia quando saio para pedalar ou correr são as dunas do Outro Lado. Entro na Beira-mar, avenida que apesar do nome, margeia o Rio Coreaú, e sou abraçado por estas dunas que, como seios, ornam a Ilha do Amor. Mas o cenário idílico cessa um pouco quando passamos da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), onde a avenida duplicada torna-se uma via. Caminhantes, os que correm, ciclistas, pedestres, todos disputamos espaço no asfalto com carros e motos, um trecho perigoso que vai até o entroncamento com a Marilago.
São tempos difíceis os que estamos vivendo. Nascido nos anos 80, sinto-me (e muitos devem sentir a mesma coisa) como que dentro da Caverna do Dragão, tentando achar a saída. Passa o tempo e não vemos a vacinação avançar, enquanto o surto que vivemos desde o final do ano não dá sinal de ceder. O que virá pela frente?
Por isso é muito gratificante morar em uma cidade como Camocim durante a pandemia. Ter o privilégio de contar com toda essa orla, que une-se à paisagem do Lago Seco, que por sua vez emenda-se à rica paisagem da estrada vicinal Camocim-Maceió… São 12 divinos quilômetros de CE, e nós, camocinenses, temos é que nos sentir mesmo orgulhosos de nossas “riquezas” naturais.
O problema é que, por um ponto de vista que as pessoas não costumam lembrar, riquezas significam também responsabilidades. E é muito triste ver como nós estamos tratando tão mal nosso Meio Ambiente. A quantidade de plástico que se vê é enorme, para onde se olha. E se de um lado está o Atlântico, do outro lado da rua vacas comem (pastam) lixo e impõem riscos a motoristas e motociclistas.
Camocim é uma cidade turística, setor que emprega muito. Ter uma Beira-mar impecável é o mínimo que podemos fazer pelos nossos barraqueiros, donos de hotel, restaurantes, comerciantes, guias… Também, como uma população saudável precisa ir menos ao médico, investir em uma orla estruturada para a prática de atividades físicas resulta, ainda, em menos gastos à rede de saúde.
*Jornalista e filho de Camocim.