A prefeita de minha cidade deverá repetir o ritual desgraçado de cada começo de ano: enviar para a Câmara o famoso projeto de contratação de temporários. E o projeto é desgraçado não por que seja integralmente algo anormal e maléfico, ou que a máquina pública não precise. Pelo contrário, está precisando, e muito. O problema consiste na desconsideração de algo mais substancial e mais legitimo, conforme publicamos em comentário anterior aqui no blogue: a efetivação dos aprovados do concurso público e a divulgação de um edital para a realização de outro concurso para suprir a demanda e cumprir a lei. Isso sim deve estar na ordem de prioridades da gestora para o pleno funcionamento da gestão - mais técnicos e menos babões engodando a máquina-. Bom, mas, a gora, neste momento, queremos refletir sobre um aspecto que compõe este ato: como ocorrerá esta contratação?
Primeiro podemos dizer que a contratação pode ser uma forma da prefeita pagar sua tropa eleitoral, formada por aqueles eleitores que trabalharam na campanha politica de 2016 em troca de um emprego em qualquer lugar da prefeitura, após a eleição, sendo que alguns trabalharam apenas para manter a vaga, mesmo depois do "pé na bunda" em novembro de 2016. Alguém duvida desta possibilidade?
Vale ressaltar que alguns comissionados tiveram que engolir o orgulho próprio e ficar trabalhando caladinhos e murchos nos meses novembro, dezembro e Janeiro, apenas "por amor", sem salários, para garantir o retorno em fevereiro deste ano.
Não pode existir algo mais humilhante para quem se submete a este tipo de situação. É nestas horas que se percebe a impossibilidade de comparar a estabilidade de um trabalho permanente, garantido através de um concurso público, com a fragilidade de um emprego de favor, sem garantia nenhuma, que torna a pessoa escrava e subalterna de um padrinho politiqueiro.
Não é de estranhar o fato da prefeita, sequer, tocar no assunto de efetivação de servidores?
Ora, nobre leitor e nobre leitora, a vossa majestade precisa de subalternos para deles usar e abusar quando e como bem entender. Por tanto, o projeto de lei, que deverá ser enviado para a Câmara de vereadores, versando sobre contratação temporária de servidores, nos próximos dias, nada mais é do que uma medida de controle do contingente serviçal, que a prefeita precisa manter sobre subordinação direta. Afinal de contas é um número considerado perigoso, caso invente de se rebelar por falta de "pagamento politico", o que seria um desastre sem precedentes!
Outro aspecto que merece reflexão sobre isto, diz respeito a Câmara de Vereadores, cuja maioria é propriedade politica da prefeita Monica e do Deputado Sérgio Aguiar. Eles - vereadores - até que discursam exaltando a independência parlamentar e até se confabulam com a prefeita, pretendendo dar a entender que existe apenas uma relação de respeito mútuo e não de subordinação direta e escancarada. Mas, tudo isso é apenas a teatralização, inverdades que podem facilmente vir à tona, por motivos óbvios de rebeldia - o que é bastante difícil de acontecer -.Mas, vejamos: e se a maioria dos vereadores decidissem votar contra a contratação temporária? A prefeita iria entender o principio da liberdade parlamentar ou iria agir com revanchismo, a exemplo do que ocorrera recentemente na Assembleia Legislativa ( episódio da extinção do TCM)?
Pois é. Nesta especifica questão, em que os vereadores tem a chance de mostrar por A mais B que a prefeita Monica Aguiar erra feio em não buscara ampliar o quadro de servidores efetivos, eles acabam colaborando com o empobrecimento da politica local, expondo cada vez mais o desejo de consolidar a prefeitura Municipal de Camocim como um grande cabide de emprego eleitoral, que já é.
O pior de tudo isso, é que, provavelmente, as marionetes desempregadas da vida, ainda deverão pressionar os vereadores para a provar o "cheque de pagamento eleitoral", apelidado de projeto de lei para contratação de servidores temporários.
E viva a "burrocracia"!
Carlos Jardel