
Porém o que de novo havia em Lutero e em sua teologia? Em uma época da história onde não havia a agilidade na divulgação das informações e muito menos tinham os meios de comunicação atuais e mesmo assim gerar tanto burburinho já no século XVI. Suas afirmações buscavam uma interpretação mais humanista da Sagrada Escritura e claro, uma modernização da Igreja como um todo. As mais importantes são:
Sacramentos: para nosso amigo Lutero, havia apenas dois sacramentos e não sete, eram eles: batismo e a ceia. Onde o batismo expressaria a participação do cristão com a morte e ressurreição de Jesus, também era a favor do batismo em crianças já que a salvação também é para as crianças. Em relação à ceia ele era contra a transubstanciação e o sacrifício da missa, mas mesmo contra a transubstanciação continuou na doutrina da real presença de Jesus na ceia e defendia a consubstanciação.
Antropologia: Para Martinho Lutero o pecado original era a corrupção da natureza do homem e isso perpassava por corpo e alma. E quanto à salvação humana depende exclusivamente da graça, logo estaria à humanidade sem livre arbítrio já que essa é uma qualidade puramente divina, ou seja, atribuída exclusivamente a Deus. O homem por ser incapaz de contribuir para sua própria salvação; mas, quanto os que perdem a salvação? Lutero diz que essa pergunta não poderia ser respondida já que ainda não havia sido revelada (Deus absconditus).
Vocação: A vocação e a criação andam de mãos dadas e as vocações seculares não poderiam ser vistas como menos importantes ou de menor valor que as vocações religiosas; pois o verdadeiro objetivo da vocação é servir ao irmão e quando alguém faz bom uso da sua vocação este foi útil ao próximo assim Deus atua e influencia tanto no lado espiritual quanto no secular. Nesse caso não há desacordo com o pensamento da Igreja Católica.
Justificação: A justiça divina não é julgada pelos homens, somente diante de Deus. Ora, o homem é pecador e se a justiça é divina esta não poderia ser alcançada por mérito dos homens. Com a morte e ressurreição de Cristo é que pôde ser alcançada, portanto independe da ação do homem; a justificação acontece quando o homem se humilha a Deus reconhecendo que é pecador e clama por misericórdia. Já dizia Paulo: “concluímos que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei.” (Rm 3.28).
Culto: Para Lutero o culto deveria ter sua rotina porque, segundo ele: “Se a Palavra de Deus não for pregada seria melhor que o homem não cantasse ou lesse ou se reunisse”, em Sobre a Organização do Culto numa Congregação (1523). E a noção de sacrifício de Cristo que há na missa é substituída pelo sacrifício vivo do próprio homem para Deus; afinal, Jesus já havia morrido uma vez por todas e não tinha necessidade de repetir isso.
Escritura: Quanto a essa parte Lutero usa o seguinte versículo bíblico: “E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela Palavra de Cristo” (Rm 10.17). Ao afirmar que a Bíblia era a única fonte segura para a fé cristã, portanto é que esta deveria ser lida por todos e a Igreja teria que apenas apontar o caminho e não ela se autoproclamar como o caminho. Com isso cada pessoa teria a autonomia para ler a Sagrada Escritura e interpretar, e as interpretações do clero também não eram as necessárias para se entender a Bíblia.
Evangelho: Pregado junto com a lei em consonância. Enquanto o evangelho acende para a luz da fé no coração da pessoa, a lei acusa. Para a simultaneidade das duas áreas há o arrependimento dos pecados e sua confissão. O perdão dado pela palavra do evangelho gera a fé e a misericórdia da graça de Deus que consegue mudar o homem de tal modo que muda sua mentalidade fazendo seus olhos voltarem apenas para o Cristo.
Percebe-se que a teologia de Martinho Lutero era mesmo incompatível com a da cúria romana, então seguindo a lei da medicina que decide amputar um membro podre para que a doença não se alastre pelo corpo inteiro; a Igreja decide amputar Lutero de seu seio.
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*Júnior Santiago, 29 anos, camocinense. Formado em Filosofia sob a chancela da UFG e atualmente faz curso de Teologia pela PUC de Minas Gerais. Membro da Congregação São Pedro Ad’ Vincula.