UM POUCO DE HISTÓRIA DA IGREJA: FUNDO HISTÓRICO DA REFORMA PROTESTANTE - Revista Camocim

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA DA IGREJA: FUNDO HISTÓRICO DA REFORMA PROTESTANTE

Depois de muitos anos agindo em surdina no Império Romano, a religião católica aos poucos ganha muitos adeptos e por consequência seu espaço; ao ponto de no intervalo de alguns séculos a ser chamada: Religião oficial do Império. Com essa alcunha muitos jogos de poder, alianças, conchavos foram feitos ao longo dos anos entre a Igreja e o Império. Uma via de mão dupla e buscava o fortalecimento de ambas as partes. O tempo passa e Igreja e Estado cada vez mais atrelados.

Idade Média chega e é o tempo onde catolicismo passa a ser o ‘ar respirado’ por todos; também são as lideranças católicas que definem o modo de viver do povo, agora não era mais preciso catequizar ninguém (como no início da era cristã), porque todos já eram batizados como católicos. Pode-se pensar que a priori tudo estivesse em paz; justamente por não haver nenhuma outra religião que pudesse fazer frente à Igreja Católica de Roma em tamanho, importância, poder ou qualquer outro aspecto, mas quando tudo parece muito calmo é quando há problemas à vista. 

Aos poucos a doutrina católica foi sendo criticada por intelectuais da época, inclusive por alguns religiosos. E o movimento Humanista Renascentista foi o estopim para que a contestação acontecesse de uma maneira mais incisiva. 

O movimento Humanista Renascentista surgiu na Europa por volta dos séculos XIV e XVI, iniciado na península itálica por Dante Alighieri e Boccaccio era livremente inspirado na antiguidade clássica; visava valorizar o homem com toda a sua potencialidade humana utilizada como tal dando-lhe uma nova mentalidade, no começo esse era um movimento restrito ao meio intelectual e o que antes era uma vertente elitizada não tinha a adesão popular, contudo a situação muda quando atinge massa da Igreja Católica. Então esse movimento rapidamente se espalha pelo solo do velho continente. E o local mais propício para essa rápida propagação foram nas terras da atual Alemanha.

Diferente da Alemanha dos dias atuais; aquela região europeia nos idos do século XVI era bastante dividida em pequenos reinos e principados que eram por sua vez pedaços do ‘despedaçado’ Império Romano, a economia era bem atrasada em comparação com outras áreas da Europa. O clero local: padres, monges e bispos, poderiam dominar o lado da ideologia não se pode dizer que dominavam em relação à questão política se também for comparar com as outras regiões europeias. 

A população daquela região não gozava de muitas posses. Porém no começo do século XVI são iniciadas as cobranças das ‘famigeradas’ indulgências (um documento dado pela Igreja, que garantia o perdão dos pecados para aquele que o portasse, após haver cumprido uma penitência estabelecida), naquele lugar. Os chamados “padres indulgentes” tinham por missão vender o máximo possível de indulgências entre os camponeses e pobres da Alemanha. E a população que já não era rica se depara com isso. 

É quando um teólogo agostiniano alemão chamado Martinho Lutero (1493 – 1546), torna-se o ‘Salvador da pátria’ ou o ‘bode expiatório’ da vez. Ele com ideias contrárias a algumas práticas da Igreja; como essas práticas piedosas de devoção, ele então vai ruminando em si grande ânsia por mudanças. As tais práticas piedosas não eram o problema em si, mas sim o fato de não serem fundamentadas teologicamente, portanto não havia sentido fazê-las e a mais contundente delas foram, é claro, à cobrança das indulgências. 

Martinho Lutero foi um monge agostiniano, nascido na Saxônia e filho do dono de uma mina de cobre que queria que seu filho fosse advogado. O jovem inteligente e talentoso que ao mesmo tempo lecionava na Faculdade de Artes e também estudava direito, mas segundo ‘reza a lenda’ devido a uma promessa feita depois de quase ter sido atingido por um raio deixa, a promissora carreira de professor e futuro advogado para se tornar monge agostiniano. Em pouco tempo faz os votos e ordenado. Já em 1510 viaja à Roma para tratar de assuntos de interesse da sua ordem e lá se desanima com a realidade que se vê cercado. 

Martinho percebe que era necessário mudar essa maneira de pensar e agir, não somente pelo lado da igreja, mas também do lado dos fiéis que praticavam e acatavam essa realidade passivamente, ora ninguém se atreveria ir contra a Igreja de Jesus Cristo, contudo Lutero assume para si essa postura de desafiar a maior estrutura religiosa de seu tempo. 

Ele escreveu as ‘famosas’ 95 teses, combatendo claramente a cobrança de indulgências por parte da ‘choldra igreja’. Gerando grande descontentamento com o clero. Outro problema sério entre Lutero e a igreja veio sobre o tema da fé e das obras; ele insistia em afirmar que a salvação é dom gratuito de Deus e as obras por mais importantes que sejam para o ser humano e o evangelho, elas não são garantia de salvação para o gênero humano. 

Dentre outros escritos luteranos eis os mais importantes para entender a teologia de Lutero: Preleções sobre Gálatas (1519); Tratado sobre as boas obras; Sobre a liberdade do Cristão; Apelo à nobreza Cristã da nação alemã e Sobre o cativeiro babilônico da Igreja (1520). 

Devido sua posição acerca das indulgências e suas publicações com teor divergente sobre a doutrina católica é quando no ano de 1521 o Papa Leão X dá a oportunidade de Martinho Lutero se arrepender e ‘desdiga’ tudo aquilo que já tinha dito, devido à recusa, então lhe é dada oficialmente a excomunhão; devido a isso Martinho e seu caso ganham grande repercussão. 

Contudo, nosso excomungado recebe o apoio dos príncipes alemães porque estes já estavam saturados dos mandos e desmandos da Igreja naquela época. E o assunto que inicialmente era teológico toma o viés político.

Agora já não se pode mais ignorar o movimento que é batizado como: Reforma Protestante; por se tornar um fato histórico, um divisor de águas para a história não só da religião. Situação muito séria para ser ignorada ou abafada pela Igreja, que por sua vez não poderia simplesmente aceitar de braços cruzados todo aquele quadro que estava sendo pintado na sua frente.

Contudo, foi a partir da repercussão da ‘revolta’ de Lutero que a Igreja Católica se viu praticamente obrigada a fazer a sua própria reforma ou a contra reforma. Isso se deu com o Concílio de Trento (1545 – 1563). 

Convocado pelo Papa Paulo III este é o décimo nono concílio realizado pela Igreja Católica. Durante esses dezoito anos de duração do concílio os bispos se viram diante de uma realidade muito complexa e difícil de ser entendida e fez com que os membros do concílio se esforçassem ao máximo para serem elaborados novos documentos e indicadas pistas importantes para os novos rumos que a humanidade e a Igreja estavam tomando. A Igreja que fora pega desprevenida por Lutero e toda a demanda que veio logo em seguida que desencadeou grandes mudanças do modo de se ver, pensar e agir perante a religião. 

A Igreja estava em uma encruzilhada, precisava se direcionar rapidamente. O concílio foi à saída encontrada; mas se a urgência era grande, o caminho percorrido pelo concílio foi bem mais difícil do que muitos poderiam ter pensado a respeito. Interrompido diversas vezes ao longo dos dezoito anos que precisou durar até atingir a sua maioridade e maturidade teológica que a época permitia. A Igreja estava a buscar a nova identidade diante daquele novo mundo; um novo quadro do cristianismo já era realidade. 

Muitos criticam o Concílio de Trento, chamando-o de tradicionalista e que fechava ainda mais as portas da cúria romana, no entanto, suas decisões para a época foram extremamente revolucionárias e mostravam uma abertura e consciência que passou a ser construída; mais informações sobre o Concílio de Trento existem no Google ou no próximo texto a ser feito por mim. 

*Júnior Santiago, 29 anos, camocinense. Formado em Filosofia sob a chancela da UFG e atualmente faz curso de Teologia pela PUC de Minas Gerais. Membro da Congregação São Pedro Ad’ Vincula.