A eleição ganhou um personagem
inesperado. Produto jornalístico de maior alcance no Brasil, o Jornal Nacional,
da Rede Globo, virou alvo de vigilância, críticas e discussões, especialmente
na internet. O ponto alto do protagonismo ocorreu depois da rodada de
entrevistas com os principais presidenciáveis, sobretudo após a realizada com a
petista Dilma Rousseff, na terça-feira 19.
Segundo um levantamento do
jornalista Ricardo Amaral, biógrafo de Dilma, os apresentadores William Bonner
e Patrícia Poeta ocuparam 35% dos 16 minutos da entrevista, o que atrapalhou a
exposição dos pontos de vista presidenciais. No comitê eleitoral petista,
reclama-se que Dilma não teve chance de falar tudo o que queria e que ela
recebeu um tratamento arrogante por parte de Bonner. O comportamento do
apresentador teria mostrado que a Globo censura a presidenta.
A impressão dos dilmistas de
que o jornalista é arrogante com entrevistados coincide com a constatação de
pesquisas internas encomendada pela Rede Globo e mantidas sob sigilo.
A primeira das entrevistas com
presidenciáveis, com Aécio Neves, do PSDB, em 11 de agosto, também causou
surpresa entre assessores e simpatizantes do tucano na internet. Não se
esperava que Aécio fosse confrontado, e de forma dura, com um tema incômodo,
como é o caso da obra construção de um aeroporto pelo tucano, quando governador
de Minas Gerais, em um terreno perto de uma fazenda da família.
Bonner reagiu aos ataques
generalizadas com uma mensagem no Twitter na quarta-feira 20. “Robôs
partidários de todos os matizes insatisfeitos! Corruptos insatisfeitos!
Blogueiros sujos insatisfeitos! Muito bom! Obrigado mesmo!”
O Jornal Nacional já era um
personagem da campanha desde o fim de julho, quando pesquisadores da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) lançaram o
"manchetômetro", um levantamento a respeito do espaço e do teor das
reportagens sobre os presidenciáveis. De janeiro a 20 de agosto, diz o
manchetômetro, o telejornal dedicou 1h22 a matérias desfavoráveis a Dilma e
3min e 32seg a favoráveis. No caso de Aécio, foram 7min e 42 seg a favor e 5min
e 35seg contra.
O conteúdo do Jornal Nacional,
programa mais lembrado pelos brasileiros quando se pergunta o que mais vêem na
TV, com 35% de citações conforme uma pesquisa Ibope, levou Dilma e o
ex-presidente Lula a lançarem uma página na internet para divulgar o que
consideram feitos de seus 12 anos de governo. No ato de estreia do site Brasil
da Mudança, mantido pelo Instituto que leva seu nome, Lula disse que estava
claro que o telejornal era de “oposição”.
Em São Paulo, maior colégio
eleitoral do País, o PT também anda às turras com a Globo. Na segunda-feira 18,
o partido entrou no Tribunal Regional Eleitoral contra a emissora, acusando-a
de censurar o postulante petista ao governo estadual, Alexandre Padilha. A
emissora tinha resolvido que só faria reportagens diárias no SPTV com
candidatos acima de 6% nas pesquisas. Padilha tinha 5% quando a decisão foi
tomada, no início de agosto.
Em sua ação contra a Rede
Globo, o PT diz que rádio e TV são as mídias que mais atingem os brasileiros e
que, por serem concessões públicas, “não podem, até por isso, ser usados para
beneficiar esse ou aquele candidato, essa ou aquela candidatura”. Pressionado,
o SPTV entrevistou Padilha nesta quinta-feira 21, dentro de sua rodada de
entrevistas com os candidatos ao governo paulista.

