Revista Camocim reproduz a publicação do escritor Raimundo Bento Sotero, postado no Facebook. Ele relata o EPISÓDIO OCORRIDO NA AGÊNCIA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL DE CAMOCIM...
"É LEI DE GERSON , EM QUE SE LEVA VANTAGEM EM TUDO"

"Ontem, constatei, com tristeza,
que o brasileiro, resguardando uma minoria, é a cara do brasiU, isto é, o
reflexo daqueles que são os homens ditos públicos, os que fazem as leis e os
que cuidam do cumprimento delas, estes que deviam agir com decência, com
decoro, com honestidade etc. , tendo uma conduta digna, irretocável, para dar o
bom exemplo a ser seguido pelos outros, o cidadão comum; mas, infelizmente, não
é isto o que acontece e o que se vê entre as gentes, no dia a dia, é a cópia
fiel daquilo que se dá na conivência das quatro paredes dos gabinetes
luxuosamente decorados, onde prevalece a negociata, o toma lá dá cá, o desvio,
a porcentagem, a rasteira... enfim, a famosa lei de Gerson, aquela de se levar
vantagem em tudo! pois é justamente isto o que se dá também entre nós, pobres
mortais! Senão vejamos: ontem, quando entrei na fila que se formava na
ante-sala dos caixas, eu era o décimo primeiro e, assim, aguardava que o relógio
batesse as dez pancadas do dia para, enfim adentrar ao recinto (que termo mais
antigo e cafona) e efetuar o pagamento da conta de luz da minha pequena
empresa, o que não pôde ser efetuado nos estabelecimentos conveniados por conta
do valor acima do permitido àqueles locais. Pois bem, enquanto a nossa fila
esperava e não parava de crescer, à feição de cobra criada, aumentando sempre e
sempre, feito cacimba boa d’água, algumas pessoas chegavam, falavam com os
guardas e seguiam para outros atendimentos, segundo diziam, pois iam falar com
fulano, com sicrano e com beltrano, quando na realidade se dirigiam para ser
atendidas justamente nos caixas, enquanto nós, guardadores dos princípios,
(im)pacientemente aguardávamos a vez. Ora foram tantas as pessoas que, desavergonhadamente,
cometerem este delito que, ao chegar a nossa vez de entrar, eu, que era o
décimo primeiro, recebi a senha de número 51, o que seria consolo se pelo menos
eu fosse amante da velha e boa água que passarinho não bebe, o que não é meu caso.
Pois bem, seguindo o rosário dos desmandos, uma vez de posse da senha, o painel
eletrônico só chamava aquelas ditas preferenciais e assim foi até meio dia,
quando o sistema saiu do ar; aqui vale dizer que não tenho nada contra este
direito, mesmo porque é legítimo; mas, em contrapartida, e o nosso direito? Por
que não botavam pelo menos um caixa para nos atender?
Pois bem, horas depois, quando o
sistema entrou novamente no ar, foi a mesma coisa, continuando aquele maldito
painel gritando só pelas senhas preferenciais e, para agravar ainda mais a
situação, havia uma senhora, saída sabe-se lá de onde, que aparentemente
acabava de entrar na idade ditas dos idosos, a qual, sem pejo algum, tirava uma
senha preferencial e dava-a a determinada pessoa, esta ainda bem jovem. Fez
isto uma, duas, três... dez vezes! E na cara do guarda! Fez tantas que a certo
momento eu a interpelei, perguntando se ela não tinha vergonha de fazer aquilo.
Ela respondeu que não e se eu tivesse incomodado, que fizesse o mesmo, ao que
lhe disse que não faria, pois tal procedimento não era correto e eu estava ali
era para respeitar e ser respeitado e arrematei tudo isto dizendo que tinha
vergonha de tal procedimento. Foi quando ela, feito fera, meteu o dedo em minha
cara e saiu dizendo que iria à polícia fazer um boletim de ocorrência, pois eu
estava chamando-a de sem-vergonha. Vejam só, meus caros leitores, como ela,
segundo o que me respondeu, não fazia o que fazia por inocência; mas por pura
sabedoria e falta de vergonha! Ora, vocês, que são polidos e aguentam o tranco,
como rês que vai ao mourão para ser sacrificada, que me desculpem a franqueza,
pois não posso mentir, e o que fiz foi acrescentar: “Então vá, seu cangaço de
arraia!” Bem, até agora não recebi qualquer intimação!
Meus amigos, disto resultou que
eu, que ia apenas fazer o pagamento de minha conta de luz; diante das
circunstâncias, decidi sacar à conta até os centavos, que eram quatro. Não a
encerrei porque o caixa não podia fazer a tal operação. Mas sexta-feira, se
Deus quiser, lá estarei novamente; mas desta vez para encerrar de uma vez por
todas minha conta corrente. Vai matar o cão de estresse, caixa do maldito"!