A onda de prender pretos pobres a postes não é exclusividade do Rio de
Janeiro. Francisco do Nascimento, 32, sofre de distúrbios mentais e, para
contê-lo, em vez de chamar o serviço público de saúde, ‘justiceiros’ de plantão
optaram por amarrá-lo a um poste, onde permaneceu por mais de duas horas, para
exposição pública. O fato ocorreu num sábado, às 15h, na Rua Bárbara de
Alencar, centro comercial do Crato, como mostrou a jornalista Raquel Paris, em
seu blog. O motivo do ataque ao cidadão foi um surto, durante o qual teria
quebrado alguns vidros de uma loja.
“Francisco do Nascimento, morador do bairro São Miguel possui histórico
de outros atentados, como pôr fogo no carro de um vizinho. Ele também possui
diversas entradas no Hospital Psiquiátrico Santa Tereza. Segundo a sobrinha, a
família não sabe mais o que fazer com Francisco do Nascimento: no hospital não
há vagas e ele se torna cada vez mais violento”, relata Paris.
E continua: “Durante as duas horas em que ficou amarrado, algumas
pessoas tentaram libertá-lo, ato que foi violentamente rechassado pelos dois
homens que o prenderam. No mais, a multidão, estonteada, admirava estupidamente
o espetáculo do homem que gritava, rugia e pedia por socorro. Diversas
autoridades estiveram no local, a exemplo de soldados do Ronda”.
“Mas há um outro histórico que pesa sobre Francisco do Nascimento:
nasceu negro e pobre. E pior: necessita de acompanhamento psiquiátrico. Dessa
forma, por ser negro, pobre e louco, Francisco Nascimento pôde ser amarrado,
exposto a ridicularização pública e violentado em sua dignidade humana , tal
qual seus ancestrais. De minha parte, só não podia acreditar que, após tantos
séculos, ainda iria presenciar um negro sendo imolado em praça pública“,
acrescentou.
Raquel Paris é jornalista “devido a um gosto desusado de ouvir e contar
histórias. Mestra em Literatura e Interculturalidade, possui graduação em
Comunicação Social. O Cariri a encanta e enlouquece na mesma proporção”.
CORREIO DO BRASIL