Ontem, à noite, por volta das
10h, quando costumeiramente voltávamos para casa, vindos da ronda noturna em
visita aos amigos e parentes; no exato momento em que abríamos o portão,
passavam pela rua três crianças (segundo o entendimento do Estado), o que para
nós eram três monstros (segundo nosso entendimento e medo), em suas bicicletas
mutiladas (só os pneus e o varão) signo característicos dos ditos
"dimenores", malfeitores e usuários do crak. Pois bem, ao perceberem
nossa presença, largaram seus veículos e vieram ameaçadoramente para nós. A
sorte é que não me atrapalhei nas escolhas das chaves e em poucos segundos
consegui desvencilhar-me do portão, ficando em segurança pelo lado de dentro.
Contando assim, não parece que foi assustador; mas para nós, que vivemos aquele
momento, foi sim. Tão assustador que minha pequena Maria Alzira, que ainda não
fez quatro anos; más já ciente dos perigos da vida, ficou lívida e falava
conosco aos cochichos, por medo. Só quando estávamos quase totalmente seguros,
no quarto de dormir, ela perguntou à Rogelma se poderia falar normalmente.
Nesse instante fiquei com pena de ter botado num mundo tão cruel uma tão doce
criatura.
Meus amigos, não foi infundado o
nosso pavor, pois no dia anterior, à luz do dia, assaltaram sob a mira de
revólver, pistola, talvez canhão, a nossa amiga Anísia, dela levando sessenta
mil contos de réis. No mesmo instante, assaltaram outra pessoa na Praça da
Matriz e logo mais, à tarde, uma farmácia no Bairro Boa Esperança. Neste
último, o da farmácia, a polícia logrou êxito e prendeu os meliantes, um "dimenor",
este que praticou o delito com a ajuda de um adulto. Quando chamaram a dona do
comércio para o reconhecimento dos ladrões, e ela respondeu afirmativamente,
reconhecendo o maldito "dimenor", este disse: "Pois bem, você me
reconheceu e agora eu vou lhe matar. Vou roubar e depois matar." disse
isto diante das autoridades e da mãe dele. Ora, eu se fosse ela, fecharia o
estabelecimento comercial e me mudaria para outra cidade, pois ele vai matá-la
mesmo, porque não tem compromisso com a vida, pois para eles tanto faz matar
uma pessoa ou uma barata. Não é a toa que crassa a violência por todo o Estado,
o que dá a nossa capital o desabonador título da sétima cidade mais violenta do
mundo.
Você sabe de quem é a culpa deste
disparate? Se não sabe, eu vou lhe dizer: a culpa é do Estado que trata estes
monstros como crianças, dando assim carta branca para estes malditos nos
matarem. A meu ver, se eles têm idade para estuprar, roubar, matar e votar para
presidente, também têm idade para responder criminalmente pelo que fizerem de
errado.
Assim, segundo meu entendimento,
quando um deles mata um cidadão, quem matou de fato foi o Estado, que tornou o
maldito "dimenor" forro de qualquer culpa e segue dando guarida a
tantos marginais.
Meus amigos, onde está a saída
para este mal? Não sei; mas ouço dizer que não vale a pena a redução da
maioridade penal. Alguns botam culpa na falta de educação, pela falta de
escolas de qualidade; outros dizem que a culpa é da disseminação das drogas.
Não sei; mas sei, no entanto, que no meu tempo de menino não havia escolas,
muito menos de qualidade, como também já havia o comércio ilegal das tão mal
faladas drogas e ninguém da minha geração se perdeu. Pra mim, a culpa é deste
ECA, que não passa de eca!
Diante de tão crescente
violência, só nos resta a dura alternativa de nos deixar matar, pois se
arrostarmos o perigo dos "dimenores" bandidos, chegando ao ponto de
matar um deles em legítima defesa, então seremos mortos pelo Estado, tão
descuidoso de nós, mas cioso daqueles.
Meus amigos, um conselho: se
acontecer de algum de vocês, na defesa própria, ou da família, matar algum
destes malditos, suicide-se em seguida, negando-se assim de ver o zelo que o
Estado tem por aqueles contra você.
Em tempo, isto só vai mudar
quando os "dimenores" começarem a matar algumas autoridades o que
sinceramente espero seja breve; de preferência um ministro do supremo!
Raimundo Bento Sotero