
Não precisamos mais de
assembleias robotizadas e apáticas, que contemplem o presbitério a distância,
friamente, como dóceis ovelhas tangidas pelo cajado do medo e da imposição.
Ovelhas e pastores - essa é a nossa condição de batizados e batizadas. De uma
vez por todas, esse modelo eclesiológico tridentino precisa ser uma mera
lembrança de um passado que não deve voltar mais. Nossos ministros ordenados,
primeiros responsáveis pela animação pastoral e espiritual da comunidade, devem
contribuir para que os leigos e leigas se apropriem de sua identidade e missão
na Igreja e na sociedade, despertando lideranças, fomentando a participação
efetiva da comunidade, suscitando uma forma mais humana e desburocratizada de
viver o seguimento a Jesus. Penso que João Batista, o precursor, pode nos
ajudar a entender a missão de um sacerdote, quando ele pronuncia as seguintes
palavras diante do Filho de Deus: "Convém que Ele cresça e que eu
diminua!". Consumir-se por amor a Deus e a comunidade é a forma mais
genuína de fazer o Cristo resplandecer nos dias de hoje.
Cristãos bispos, cristãos
padres e cristãos leigos devem resgatar a saudável parceria e a inviolável
unidade por vezes esquecida nas estruturas internas da Igreja. Os novos tempos
exigem de nós novas posturas e comportamentos. Infelizmente ou felizmente, não
detemos mais a hegemonia de pensamento que nos fazia repousar em berço
esplêndido, apoiando-nos nas paredes da antiga tradição que se perpetuava de
uma geração a outra pela hereditariedade. Vivemos sim, numa sociedade
questionadora e pluralizada, cheia de "novos areópagos", que nos
desafia e nos indaga constantemente. Toda e qualquer evangelização pautada no
poder pelo poder, tende a ruir como aquela construção, citada pelo divino
Mestre, alicerçada sobre a areia.
Dialogar é respeitar a
autonomia do outro. Nesse aspecto, precisamos avançar muito. O batismo nos fez
partícipes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, portanto,
protagonistas da ação evangelizadora. Se estamos em plena comunhão com o
projeto de Jesus Cristo, podemos e devemos falar em seu nome e em nome da
Igreja. Quando tomamos consciência de que somos "sujeitos e não
objetos" nesse processo evangelizador, passamos a tomar as iniciativas
necessárias para que o Reino de Deus se propague e se difunda, sem viver à
sombra de qualquer membro do corpo místico de Cristo. Obediência não é a mesma
coisa que subserviência! Só consegue dialogar quem for capaz de descer de seu
pedestal e se colocar numa atitude de escuta e humildade, como Jesus, que ouvia
atentamente os clamores de seu povo e em um determinado momento, curvou-se para
lavar os pés de seus discípulos.
Sintamos novamente o
"sopro inovador" do Concílio Vaticano II e nos deixemos guiar por
seus ensinamentos e diretrizes. Não se trata de criar algo novo para a fé
cristã, mas de resgatar os pontos basilares de nossa espiritualidade um pouco
esquecidos por cada um de nós.
Por César Augusto Rocha -
Presidente do CNLB/NE I