RELIGIÃO - POR UMA IGREJA QUE SAIBA DIALOGAR - Revista Camocim

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

RELIGIÃO - POR UMA IGREJA QUE SAIBA DIALOGAR

"Roma locuta, causa finita!" Ao contrário de outras épocas em que reinava o autoritarismo e a uniformidade de pensamento, hoje, como Igreja, precisamos aprender a dialogar com as diferenças, com as situações adversas, buscando criar espaços de comunhão e acolhimento. Todo e qualquer fundamentalismo religioso fere gravemente a fraternidade e a caridade, princípios fundamentais da fé cristã.
Não precisamos mais de assembleias robotizadas e apáticas, que contemplem o presbitério a distância, friamente, como dóceis ovelhas tangidas pelo cajado do medo e da imposição. Ovelhas e pastores - essa é a nossa condição de batizados e batizadas. De uma vez por todas, esse modelo eclesiológico tridentino precisa ser uma mera lembrança de um passado que não deve voltar mais. Nossos ministros ordenados, primeiros responsáveis pela animação pastoral e espiritual da comunidade, devem contribuir para que os leigos e leigas se apropriem de sua identidade e missão na Igreja e na sociedade, despertando lideranças, fomentando a participação efetiva da comunidade, suscitando uma forma mais humana e desburocratizada de viver o seguimento a Jesus. Penso que João Batista, o precursor, pode nos ajudar a entender a missão de um sacerdote, quando ele pronuncia as seguintes palavras diante do Filho de Deus: "Convém que Ele cresça e que eu diminua!". Consumir-se por amor a Deus e a comunidade é a forma mais genuína de fazer o Cristo resplandecer nos dias de hoje.
Cristãos bispos, cristãos padres e cristãos leigos devem resgatar a saudável parceria e a inviolável unidade por vezes esquecida nas estruturas internas da Igreja. Os novos tempos exigem de nós novas posturas e comportamentos. Infelizmente ou felizmente, não detemos mais a hegemonia de pensamento que nos fazia repousar em berço esplêndido, apoiando-nos nas paredes da antiga tradição que se perpetuava de uma geração a outra pela hereditariedade. Vivemos sim, numa sociedade questionadora e pluralizada, cheia de "novos areópagos", que nos desafia e nos indaga constantemente. Toda e qualquer evangelização pautada no poder pelo poder, tende a ruir como aquela construção, citada pelo divino Mestre, alicerçada sobre a areia.
Dialogar é respeitar a autonomia do outro. Nesse aspecto, precisamos avançar muito. O batismo nos fez partícipes do múnus sacerdotal, profético e régio de Cristo, portanto, protagonistas da ação evangelizadora. Se estamos em plena comunhão com o projeto de Jesus Cristo, podemos e devemos falar em seu nome e em nome da Igreja. Quando tomamos consciência de que somos "sujeitos e não objetos" nesse processo evangelizador, passamos a tomar as iniciativas necessárias para que o Reino de Deus se propague e se difunda, sem viver à sombra de qualquer membro do corpo místico de Cristo. Obediência não é a mesma coisa que subserviência! Só consegue dialogar quem for capaz de descer de seu pedestal e se colocar numa atitude de escuta e humildade, como Jesus, que ouvia atentamente os clamores de seu povo e em um determinado momento, curvou-se para lavar os pés de seus discípulos. 
Sintamos novamente o "sopro inovador" do Concílio Vaticano II e nos deixemos guiar por seus ensinamentos e diretrizes. Não se trata de criar algo novo para a fé cristã, mas de resgatar os pontos basilares de nossa espiritualidade um pouco esquecidos por cada um de nós.


Por César Augusto Rocha - Presidente do CNLB/NE I