"Patrícia Morghetti quer viver no Brasil, onde acha que terá mais oportunidades do que no Japão"
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“Às vezes, eu me sinto sem
identidade. Não pertenço ao Japão, mas o Brasil é um país desconhecido para mim
também”, disse à BBC Brasil.
Ela estudou em escola brasileira e,
por isso, não fala o idioma local. “Na época em que cheguei ao Japão, não havia
muitas famílias estrangeiras e meus pais tiveram receio de eu sofrer bullying.
Por isso, optaram pelo ensino brasileiro”, contou.
Patrícia mora em Hamamatsu, na
província de Shizuoka, cidade com uma das maiores concentrações de brasileiros
no Japão. “Sempre vivi nessa redoma, nessa comunidade brasileira. É como se estivesse
à parte da sociedade”.
“Moro num país do qual não falo a
língua, do qual não entendo nada e não consigo me integrar à sociedade.”
Atualmente, a brasileira trabalha num
bar, onde se comunica com clientes estrangeiros em inglês. “Só de não trabalhar
na fábrica já está ótimo. Na fábrica, as pessoas param no tempo, não evoluem, e
eu sempre tive certeza que não queria aquilo para mim”, acrescentou.
Hoje, aos 21 anos, e com dois filhos
para criar, ela planeja finalmente voltar ao Brasil no fim do ano que vem.
“A imagem que tenho do Brasil é
aquela que vejo na TV: corrupto, violento, onde não se pode confiar nas
pessoas. Mas também vejo como um país de oportunidades, pois pelo menos poderei
me comunicar no meu idioma”, afirma.
Foram histórias como a de Morghetti
que inspiraram Kimihiro Tsumura, professor de Estudos da Comunicação
Contemporânea da Universidade Hamamatsu Gakuin, e a cineasta Mayu Nakamura a
produzir um documentário, lançado neste ano no Japão.
Andorinhas Solitárias (Kodoku na
Tsubametachi, título em japonês) retrata a vida de cinco jovens brasileiros da
quarta geração (yonsei), cada qual com seus problemas sociais de adaptação,
identidade, separação e integração social em um meio adverso.
A obra explora o sentimento comum de
não pertencer ao Japão, mas mostra também as dificuldades de se readaptar ao
Brasil.
O pesquisador Angelo Ishi, sociólogo
e professor da Universidade Musashi, em Tóquio, no entanto, faz ressalvas. Para
ele, o documentário peca ao mostrar uma “realidade” que não é a comum dos
jovens da segunda geração de brasileiros no país.
“O filme apresenta, deliberadamente,
os exemplos mais graves de jovens que enfrentam ou causam problemas para si e
para os outros”, avalia.
Para Ishi, o grande problema nem é o
fato do documentário deixar de citar os casos de sucesso e de jovens que “deram
certo”, mas, sim, omitir a realidade da grande maioria dos jovens. “Eles vivem
em um ‘limbo’ entre o ‘sucesso’ e o ‘fracasso’; não estão chegando até a
faculdade, mas nem por isso se perderam na criminalidade, depressão e
autoflagelo”, afirmou.
“Andorinhas Solitárias é
sensacionalista por ignorar e omitir as andorinhas menos agitadas, cujas
feridas são menos visíveis, e que enfrentarão em breve as noites solitárias de
hora-extra numa fábrica e a eterna procura de um sentido para suas vidas”, analisou
Ishi.
Carlos Jardel
Fonte: Correio do Brasil