Em maio de 1982, Carlos
Drummond de Andrade escreveu algo muito interessante sobre o direito de ir e
vir, direito este que, aqui em Camocim, deveria ser questionado rigorosamente
pelas autoridades competentes. Leia atentamente o que escreveu o poeta e escritor
sobre o assunto.
“Outro dia fui ao médico e ele me
perguntou se eu ando bastante a pé.
- Muito, respondi.
- Pois então ande mais ainda.
O conselho é saudável, mas não sei como se
possa andar com as calçadas e o leito das ruas cheios de veículos, sem uma
beiradinha para o infortunado pedestre. Fomos definitivamente proscritos da
cidade. E não temos para onde ir, pois o progresso chega ao interior, com seu
cortejo de máquinas, desde o automóvel até a carreta, passando pela moto, a
escavadeira, a britadeira e demais bichos mecânicos incumbidos de obstar o
alegre movimento das pernas...”
Olhando para a foto acima,
tirada por um leitor deste blog, Revista Camocim, podemos observar que de 1982
até 2013, a situação não mudou praticamente nada, apesar da intensificação das
leis e das normas oficiais que os municípios criaram regulamentando o uso das
calçadas para resguardar o direito sagrado de ir e vir dos cidadãos, Camocim
perpetua este mal insolente que prejudica vários cidadãos em pleno centro comercial
da cidade, onde o fluxo de pessoas, carros, ciclistas e motociclistas, num
processo transitório sem confluência se caracterizam como instrumentos perigosos,
capazes de vitimar qualquer um que se atreva a andar despercebido.
A foto acima é uma prova de que
a calçada é um convite para o constrangimento de cadeirantes, idosos e demais
pessoas que, muitas vezes, diariamente, se submetem ao ato de descer a calçada
para se aventurarem entre carros e motos no violento fluxo de frente ao semáforo instalado na Rua
24 de maio com Alcindo Rocha (semáforo que vez por outra também não
funciona). Até pouco o estabelecimento
fotografado estava marcado por bandeiras do partido político da prefeita Mônica
Aguiar, o que se configura numa verdadeira afronta a população, uma grande
desobediência a Lei Eleitoral que proíbe propaganda política em
estabelecimentos públicos. Seria isso um sinal de que esta calçada foi
privatizada? Ou está apadrinhada?
Estendo aqui esta critica a
todos os comerciantes que abusivamente usam destas mesmas praticas
desrespeitosas. Em muitas cidades Brasil a fora este abuso está sendo eliminado
por parte da justiça. E em Camocim quem
vai tomar as providencias?
Concluindo o texto fica a
reflexão de Carlos Drummond Andrade
“Vamos trabalhar pela afirmação
(ou reafirmação) da existência do pedestre, a mais antiga qualificação humana
do mundo. Da existência e dos direitos que lhe são próprios, tão simples, tão
naturais, e que se condensam num só: o direito de andar, de ir e vir, previsto
em todas as constituições... o mais humilde e o mais desprezado de todos os
direitos do homem. Com licença: queremos passar”
(Publicada em Jornal do Brasil
de 9/5/82-Domingo) Leia a publicação na integra AQUI