O cantor sertanejo Zezé Di Camargo decidiu que o problema do Brasil não é inflação, desigualdade ou crise institucional, é um especial de Natal exibido depois da visita de Lula ao SBT. O cantor, que nunca recusou palco, câmera ou cachê, agora posa de purista ideológico, como se tivesse sido coagido a gravar algo contra a própria consciência. Gravou porque quis. Recebeu porque aceitou. Reclamar depois é menos coragem e mais encenação.
Há algo de profundamente cômico, e trágico nesse surto tardio de princípios. Zezé age como se a presença de um presidente eleito contaminasse a emissora, o estúdio e até o espírito natalino. É a política tratada como vírus e o artista como vítima imaginária. Não é discordância: é paranoia travestida de virtude, um moralismo que só aparece quando rende curtida e aplauso fácil.
No fim das contas, Zezé não confronta o poder; ele flerta com a irrelevância. Ao misturar ressentimento político com birra pública, reduz sua trajetória a um gesto pequeno, barulhento e autocentrado. Quem já foi voz de multidões hoje prefere ecoar a própria indignação, acreditando que gritar “tirem meu programa do ar” é ato histórico. Não é. É só barulho.

