O que o Rio de Janeiro viveu na última terça-feira(28) foi uma tragédia anunciada. Mais uma. Mais de cem mortos em uma operação que transformou favelas em campos de guerra. De um lado, o poder público que age com brutalidade. Do outro, facções criminosas que há décadas sequestraram o direito das pessoas de viver em paz. No meio, o povo, abandonado, acuado, invisível.
As facções criminosas são um câncer que se alimenta da ausência do Estado. Armadas até os dentes, controlam territórios, impõem medo, cobram “taxas”, executam inocentes e desafiam abertamente o poder público. Não são vítimas do sistema, são parte dele. São os senhores da miséria, sustentados por uma economia paralela de drogas, armas e corrupção que envolve também setores das próprias instituições. Combatê-las é necessário. Mas é preciso combater com inteligência, com estratégia, e não com massacre.
A resposta do Estado, porém, é igualmente criminosa quando age sem limites. Não se pode combater o terror com mais terror. O uso descontrolado da força, a morte de dezenas de pessoas sem investigação e o silêncio cúmplice das autoridades mostram que o Brasil perdeu o rumo na sua política de segurança. A cada operação, o Estado mata o corpo, e o crime volta no dia seguinte para matar a alma daquelas comunidades.
A verdade é que o Estado e o crime disputam o mesmo território, e quem perde é sempre o cidadão comum. A mãe que não pode sair de casa. A criança que não pode brincar na rua. O trabalhador que pega o ônibus com medo de uma bala perdida, seja ela de bandido ou de policial.
O governador Cláudio Castro precisa entender que o Rio não é uma trincheira, é uma cidade. E que segurança pública não se constrói com discursos belicosos, mas com políticas sérias, prevenção, educação e inteligência.
O Brasil está cansado de sangue. Nem o crime organizado, nem o Estado desorganizado podem continuar ditando quem vive e quem morre.
O Rio sangrou, e foi o povo, mais uma vez, quem pagou o preço.
Carlos Jardel
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