Ontem, quarta-feira (06), na primeira Sessão da Câmara Municipal de Camocim, após o recesso parlamentar de Julho, o líder do governo da prefeita Betinha, vereador Kléber Veras, resolveu abandonar por completo o papel constitucional que jurou exercer para vestir a camisa, ou seria o colete, de defensor incondicional da prefeita Betinha, da vice-prefeita Monica e do deputado Sérgio Aguiar, e subiu à tribuna não para legislar, nem para fiscalizar, mas para prestar um curioso serviço de relações-públicas.
A fala do vereador, vergonhosamente, foi um verdadeiro manual de como se distorce a função do parlamentar municipal. “Nosso trabalho aqui é realmente defender”, disse ele, num trecho que deveria assustar qualquer democrata de plantão. Defender? De quem? Do povo? Da crítica? Da imprensa livre?
A Constituição Federal de 1988 é clara: cabe ao vereador legislar, fiscalizar o Executivo, zelar pelo dinheiro público, representar os interesses da população. Mas em Camocim, segundo Kléber Veras, o vereador é uma espécie de escudo humano do Executivo, uma muralha de bajulação e um poste institucional plantado entre microfones e microfones.
“Não temos medo de combater uma crítica mal colocada”, disse ele, erguendo a espada contra quem ousa apontar erros da gestão Betinha. E continua: “Não nos ofendemos com isso e também não queremos ofender nenhum colega”, numa tentativa de parecer conciliador, mesmo enquanto esvazia o papel de quem pensa diferente. Afinal, quando o fiscal vira advogado, quem fiscaliza o fiscal?
Mais à frente, o líder governista praticamente canoniza a prefeita:
“Temos uma força que é o reconhecimento público, foi o povo de Camocim que reconheceu o trabalho”.
Um argumento típico de quem confunde eleição com absolvição. Como se o voto popular, como costumo dizer, fosse um salvo-conduto eterno para governar sem questionamentos.
E o espetáculo não para por aí. Kléber distribui parabéns em série: para a prefeita, para a vice, para o deputado, para as secretarias, até para o tempo, se tivesse dado sol no evento. Num parágrafo só, transformou a tribuna da Câmara numa extensão da assessoria de comunicação da Prefeitura.
E a pergunta que não quer calar e: onde está o vereador de verdade? Aquele que questiona contratos, que cobra transparência, que visita postos de saúde e escolas, que enfrenta críticas e as transforma em propostas?
Ao que tudo indica, está escondido sob o paletó do porta-voz do governo.
Defender prefeito, vereador Kléber, é papel de advogado. O seu, com todo respeito, é outro.
Carlos Jardel