Os moradores de Camocim que dependem da farmácia pública para controlar doenças respiratórias andam respirando, ironicamente, um ar de indignação. Isso porque dois medicamentos essenciais, Clenil HFA (dipropionato de beclometasona) e Aerodini (sulfato de salbutamol), simplesmente desapareceram das prateleiras.
O Clenil, usado como anti-inflamatório para manter o controle da asma e outras doenças obstrutivas crônicas, e o Aerodini, broncodilatador crucial para alívio imediato das crises, são praticamente irmãos siameses no tratamento. Faltando um, já é grave; faltando os dois, é um convite ao sufoco.
Estamos falando de medicamentos de primeira linha que evitam internações, desafogam emergências e, sobretudo, salvam vidas. O mais curioso (ou trágico) é que a ausência não vem de ontem. Relatos apontam que usuários vêm peregrinando entre unidades, ouvindo a velha cantilena do “volte amanhã”, esse amanhã que nunca chega.
Enquanto isso, o cidadão se vira como pode. Alguns improvisam, outros compram do próprio bolso (quando podem), e a maioria, claro, sofre calada. Tudo isso num município que gosta de se gabar de ser acolhedor e organizado.
Pergunto: Seria só mais um exemplo do famoso "jogo de empurra" que já conhecemos? Ou uma estratégia para que a população, além de ficar sem ar, também perca a paciência?
A verdade é que, em Camocim, o problema respiratório vai além dos pulmões: é também uma asfixia moral. Afinal, a prioridade deveria ser o cidadão, e não a burocracia que sufoca quem mais precisa.
Alguém precisa, urgentemente, devolver o fôlego à população. Porque de promessa vazia e ar poluído, o camocinense já está cheio.
Carlos Jardel