Alfinetada
Erá só o que faltava em Barroquinha, um vereador [tio de um foragido da Justiça, que atropelou e matou um trabalhador passando duas vezes com o carro por cima dele] vir a público defender que as leis de trânsito não devem existir porque “prejudicam o pobrezinho”. Isso não é só hipocrisia. É deboche. É cinismo institucionalizado com microfone na mão e imunidade parlamentar nas costas.
O vereador Júnior Magalhães ache bonito um cidadão pilotar embriagado, sem capacete, sem habilitação, em uma moto irregular, atropelando pessoas inocentes. Ele é contra o profissional que eduque, que oriente, que proteja vidas. O que o vereador do Jaime Veras propõe, na prática, é que se oficialize o caos, que se romantize a ilegalidade, que se use a pobreza como escudo para justificar o desgoverno.
É conveniente dizer “sou contra a guarda de trânsito porque sou a favor do povo”, quando esse mesmo povo é o primeiro a morrer em acidentes por falta de fiscalização, de sinalização, de ordem. Sim Júnior, é conveniente, mas perverso.
A fala do vereador não é só ignorância, é cumplicidade. Cumplicidade com o abandono, com a desordem, com a impunidade. Pior: é o tipo de discurso que planta a ideia de que cumprir a lei é luxo de rico, e que proteger a vida é um empecilho para o comércio.
E o mais grave: isso tudo vindo de alguém que tem o próprio sobrinho foragido, acusado de matar um pedreiro atropelado de forma brutal e covarde. Um assassinato com rodas e motor, que deveria fazer qualquer parente baixar os olhos e respeitar o silêncio. Mas não. Em vez disso, um discurso que soa quase como provocação, quase como justificativa indireta para a tragédia: “vejam como a lei atrapalha os nossos”.
Barroquinha precisa de estrutura, de fiscalização, de ordem, não de vereadores que tratam o crime com brandura e a lei com desprezo. O que o senhor Júnior Magalhães defende não é o povo. É a continuação da impunidade que protege o próprio sangue, enquanto a cidade enterra os seus mortos.
Carlos Jardel