Dizer que o homem que queimou a Biblia foi morto por castigo de Deus é mais grave que queimar a Biblia - Revista Camocim

sexta-feira, 16 de maio de 2025

Dizer que o homem que queimou a Biblia foi morto por castigo de Deus é mais grave que queimar a Biblia

O inferno não é para quem queima papel, mas para quem mata em nome de Deus!



Dizer que a morte de um homem é “vingança de Deus” por ele ter queimado uma Bíblia é não apenas uma distorção do Evangelho, mas também uma profunda ofensa à própria essência de Deus. O Deus revelado por Jesus não é assassino, não é vingativo, não age com ódio ou violência. É misericórdia. É compaixão. É amor que abraça até o inimigo. Jesus, ao ser traído, preso, torturado e morto injustamente, respondeu com perdão, não com fúria.


Infelizmente, alguns cristãos preferem imaginar um Deus com sede de sangue, mais parecido com líderes de guerra do que com o carpinteiro de Nazaré. Um Deus que “mata” em resposta a insultos é uma criação humana, não uma revelação divina. É uma caricatura que serve para justificar a própria sede de justiça com as próprias mãos. E isso, sim, é idolatria.


O homem que morreu em Tianguá tinha antecedentes criminais e, segundo relatos, possível envolvimento com facções criminosas. Sua morte pode estar diretamente ligada a esse contexto de violência e não ao ato de queimar uma Bíblia. Julgar que foi "castigo divino" é fugir da responsabilidade de entender as causas sociais e humanas que levam tantos a esse caminho de morte. Deus não executa sentenças por meio de pistoleiros.


E mesmo que esse homem tenha ido para o inferno, o que só Deus pode saber, certamente não foi por ter queimado papel e tinta. A salvação ou perdição de alguém não se define por gestos polêmicos, mas pela disposição do coração diante da verdade, da justiça e do amor. Jesus perdoou ladrões e acolheu prostitutas. A cruz não foi erguida para os puros, mas para os injustos.


O vídeo dele era, sim, ofensivo. Mas também trazia incômodas verdades: quantos falsos profetas usam a Bíblia para extorquir os fiéis? Quantas igrejas se aliam ao poder político para manter privilégios? Quantas vezes a religião serviu de justificativa para guerras, genocídios, escravidão, e até hoje acoberta abusos, corrupção e intolerância? Foram cristãos, ou que se diziam cristãos, que colonizaram povos em nome de Deus, que queimaram mulheres por "bruxaria", que ergueram muros em vez de pontes.


A Bíblia, ao ser usada como instrumento de dominação, perde o Espírito e vira só livro. Papel. Idólatra é quem a transforma em amuleto, não quem a crítica.


A fé cristã verdadeira não se sustenta na punição, mas na redenção. Deus não precisa matar para se defender. Quem acredita nisso, talvez não conheça o Deus de Jesus — aquele que mandou amar os inimigos, não exterminá-los.


Carlos Jardel