Chorou na coletiva de imprensa as últimas cebolas cortadas no Egito.
Assisti com uma mistura de constrangimento e incredulidade a parte da entrevista coletiva do ex-prefeito cassado de Senador Sá, Bel Júnior, ficha atualmente suja, em que ele atribui sua queda à suposta perseguição política. É evidente que ele precisava dar uma satisfação à sua base após o vexame em escala nacional. E, claro, precisava se colocar como vítima. Mas o fato é que ele não fala somente para sua bolha. Graças ao processo democrático, sua narrativa encontra resistência nos fatos, e estes não mentem.
Quem o julgou e o condenou não foram seus adversários políticos, mas as instâncias da Justiça Eleitoral. Exceto se ele queira insinuar que os magistrados violaram as normas e agiram parcialmente, o que, além de irresponsável, seria uma acusação grave e sem fundamento.
Sim, foi a oposição local que apresentou a denúncia, conforme comum em democracias. Mas não basta acusar: houve provas robustas de abuso de poder econômico e político durante a campanha. E a Justiça, cumprindo seu papel, o considerou inelegível.
Agora, cabe perguntar: de onde o ex-prefeito tirou a ideia de que, por receber maioria de votos, estaria automaticamente acima da lei? Isso é puro delírio. Seria mais honesto admitir que cometeu erros graves ao acreditar que valia a pena jogar sujo, ignorando as regras do jogo democrático e o papel da Justiça Eleitoral.
Ou será que ele realmente acredita que Senador Sá é uma espécie de feudo particular, onde pode agir como bem entender, acima das instituições, das leis e do bom senso? Perdeu. E não foi por perseguição, foi por escolha própria ao desprezar as regras. Seria sensato calçar a sandália da humildade e aceitar que a política, numa democracia, não é via de mão única, muito menos um espaço onde o mais esperto pode tudo.
E para finalizar, vamos combinar: não tem nada de comovente, muito menos inspirador, essa ladainha de que ele é vítima de perseguição política por vir de uma família humilde que “venceu na vida” nos ramos empresarial e político. Ah, o velho mito do herói injustiçado pelo próprio sucesso… Parece até que nunca leu uma linha de sociologia, história ou filosofia, quem sabe nem o noticiário. Porque, sejamos francos, o mundo está cheio de gente que saiu de baixo e chegou ao topo passando por cima de princípios, leis e pessoas. Como já dizia Nietzsche, “quem luta com monstros deve ter cuidado para não se tornar um deles”. E tem muita gente que, ao vencer, vira exatamente aquilo que dizia combater. Subir na vida não torna ninguém santo. Em muitos casos, só revela o tamanho da ambição e da dissimulação
Carlos Jardel.
