A besteira de dizer que fulano "ofendeu a Deus" - Revista Camocim

terça-feira, 20 de maio de 2025

A besteira de dizer que fulano "ofendeu a Deus"

 


A expressão “ofendeu a Deus” é uma das maiores aberrações teológicas que podemos ouvir na atualidade. Como pode alguém, finito e falho, realmente “ofender” o Ser Supremo, aquele que é a origem de tudo, infinitamente além das limitações humanas? Essa visão reducionista e punitivista não apenas distorce a ideia de Deus, mas também desvia o foco da verdadeira questão: as relações de poder e opressão que estão longe de refletir a justiça divina.


A ideia de “ofender a Deus” é um reflexo de uma moralidade alienada e distorcida, onde o humano é reduzido a um ser submisso, incapaz de refletir ou questionar as estruturas de opressão. Quando alguém fala que “fulano ofendeu a Deus”, geralmente está se referindo a algum ato pessoal ou comportamento considerado “imoral”. No entanto, é precisamente esse discurso moralista que ignora o sofrimento real daqueles que são esmagados pelas injustiças sociais e políticas. Quando vemos Deus sendo “ofendido” em ações individuais ou palavras vazias, ignoramos o fato de que a verdadeira ofensa a Deus está nas mãos daqueles que exploram, oprimem e marginalizam milhões de seres humanos todos os dias.


Quem, de fato, está ofendendo a Deus? É aquele que corrompe a política, explora a miséria alheia, nega direitos básicos a quem luta pela sobrevivência? Ou é o indivíduo que, em sua fraqueza, comete erros pessoais que não impactam o coletivo de forma alguma? Não podemos esquecer que a mensagem de Jesus foi sempre de justiça, libertação e amor ao próximo, especialmente aos mais pobres e excluídos. Esse amor radical não se reflete nas críticas vazias e moralistas, mas na transformação das estruturas de opressão.


Em vez de gastar tempo e energia condenando os “erros pessoais” que nada têm a ver com a verdadeira injustiça, deveríamos nos perguntar: quem realmente está ofendendo a Deus hoje? São os que contribuem para a desigualdade, a violência, o racismo, a exploração do trabalho? O verdadeiro escárnio a Deus não está nas ações privadas, mas nas estruturas que perpetuam a dor e a exclusão.


A grande ofensa a Deus não é uma palavra dita, um comportamento errôneo de um indivíduo. A verdadeira ofensa é continuar permitindo que a vida humana seja desvalorizada, que os direitos sejam negados e que as injustiças prosperem. A revolução que Deus exige não está nas palavras vazias sobre moralidade, mas na luta pela justiça e pela dignidade humana.


Se queremos realmente honrar a Deus, precisamos olhar para o sofrimento do nosso próximo e agir para transformá-lo. Esse é o verdadeiro caminho, a verdadeira justiça , e é isso que realmente honra a Deus.


Carlos Jardel