A Ressurreição de Jesus é o grito dos pobres que Deus escutou - Revista Camocim

sábado, 19 de abril de 2025

A Ressurreição de Jesus é o grito dos pobres que Deus escutou



A ressurreição de Jesus não é um simples milagre individual, um "final feliz" para uma tragédia. Ela é a intervenção radical de Deus na história, rompendo com toda lógica de morte, opressão e exclusão. Jesus ressuscitado não volta para Pilatos, nem para os poderosos do templo. Ele aparece primeiro às mulheres — marginalizadas, silenciadas — e caminha com os discípulos abatidos, desiludidos, feridos. A ressurreição é a escolha de Deus pelos esquecidos.


A ressurreição é o ato definitivo de Deus em favor dos pobres. É o sim de Deus a todos os corpos crucificados pela história — negros, indígenas, mulheres, LGBTQIA+, moradores de rua, trabalhadores explorados. É Deus dizendo: “vocês não são descartáveis. Em vocês habita a vida plena.”


A cruz não foi o fim. Não é o império que tem a última palavra. A ressurreição é o protesto de Deus contra todas as estruturas que matam, o grito divino que rasga o véu do templo e denuncia o sistema: “vocês mataram o Justo, mas Eu o ressuscitei.” E com Ele, ressuscitam também os sonhos soterrados, os corpos marginalizados, as esperanças sufocadas.


Crer na ressurreição é, portanto, comprometer-se com a justiça. Não existe fé pascal que ignore os crucificados de hoje. Não há glória sem compaixão, nem aleluia que dispense solidariedade concreta. Ressuscitar com Cristo é lutar para que cada mesa tenha pão, cada casa tenha teto, cada pessoa tenha dignidade. É resistir, esperançar, organizar.


A Páscoa é subversiva. Ela inverte a lógica do mundo. Deus não está nos palácios, mas nas trincheiras da vida. Jesus não ressuscita para perpetuar o sistema, mas para inaugurar o Reino — onde os últimos são os primeiros, onde os pobres são bem-aventurados, onde os humilhados são exaltados.


A ressurreição é o ato político de um Deus que se recusa a compactuar com a injustiça. E se Ele ressuscitou, então nenhuma opressão é definitiva. Nenhuma morte tem a última palavra. A última palavra é Vida. E vida em abundância para todos.



Carlos Jardel