Fanatismo e ignorância transformando a fé em desumanização - Revista Camocim

sexta-feira, 28 de março de 2025

Fanatismo e ignorância transformando a fé em desumanização



Na Praça da Matriz, hoje, nas primeiras horas do dia, um evangélico, com microfone e caixa de som em uma bicileta — que fazia uma suposta pregação para dezenas de pessoas que aguardavam atendimento do programa Ouvidoria na Praça e Decom Viajante — apontou para uma mulher fragilizada pelo alcoolismo e, com fanatismo, atribuiu sua condição a uma suposta possessão demoníaca, ignorando sua realidade humana e a necessidade de tratamento.


Essa visão grotesca do dito pregador expõe ignorância religiosa alarmante e pior ainda: fomenta o preconceito e o desprezo contra pessoas adoecidas pela dependência química. O alcoolismo é uma condição clínica séria, que demanda assistência médica, apoio psicológico e políticas públicas eficazes. Não será a verborragia alienada "em nome de Jesus" que curará alguém, mas sim a ciência, a solidariedade e a responsabilidade social.


A postura desse pregador não trata fé, mas arrogância. Ou o proprio pode estar adoecido mentalmente. Mas se trata de um ato que não evangeliza, desinforma. Não acolhe, exclui. O que ele propaga não é esperança, mas estigma. Enquanto ele bradava sua ignorância ao vento, aquela mulher continuava ali, real, existindo para além do seu julgamento barato. E amanhã, talvez no mesmo lugar, outra pessoa em sofrimento será alvo desse mesmo espetáculo de intolerância, aplaudido pelo conformismo dos que assistem calados.


Carlos Jardel