Em janeiro de 2023, uma importante lei foi discutida, por meio de Audiência Pública, na Câmara de vereadores de Camocim AQUI, para a proteção do patrimônio histórico e cultural da cidade. Em fevereiro do mesmo ano, a proposta foi votada por unanimidade pelos vereadores. No papel, a legislação AQUI prever medidas concretas para evitar a destruição da memória arquitetônica da cidade. Mas, mais de um ano depois, a lei continua esquecida, sem qualquer avanço na sua implementação.
Enquanto isso, imóveis históricos continuam sendo demolidos para dar lugar a novos empreendimentos. O caso mais recente envolve o antigo Camocim Clube, que foi palco de diversas manifestações culturais ao longo dos anos 50 e 60. Hoje, as paredes que guardavam parte da história da cidade estão sendo derrubadas, e nada está sendo feito para impedir.
A própria lei aprovada previa a criação de uma comissão especializada para cuidar do patrimônio histórico, mas esse grupo, ao que parece, nunca foi formado de maneira ampla e representativa. Em vez de uma participação popular, os nomes foram escolhidos a dedo. Além disso, a legislação estabelecia incentivos fiscais, como isenção de impostos e descontos para aqueles que preservassem as fachadas dos prédios históricos. Nenhuma dessas medidas saiu do papel.
O mais grave é que a proposta partiu do próprio Executivo Municipal, que, até agora, nada fez para colocá-la em prática. O discurso de valorização da cultura e da identidade camocinense não passa de palavras vazias. Na prática, a cidade segue entregando seu passado às máquinas, em nome do progresso a qualquer custo.
Graça Cardeal, escritora camocinense, da Academia de Ciências, Artes e Letras, sobre o assunto, escreveu em um grupo de WhatsApp:
"Sofro horrores com a inércia de Camocim! Nossa “cara”, sendo destruída de forma galopante e o nosso lamento nunca fala alto o suficiente para gerar um movimento de maior impacto.
Quem se divertiu na década de 50/60 vai saber do que estou falando. Virar a noite em uma festa no Camocim club, porém com breves cochilos nos estofados do toalete espelhado e de extremo bom gosto, um luxo! Provavelmente vindo da Europa.
Nossos filhos, nossos netos, nunca poderão visitar aquele magnífico espaço rico de memórias, principalmente das festas de debutantes, carnavais e términos de cursos.”
A pergunta que fica é: quando Camocim vai começar a valorizar sua própria história? Ou será que vamos continuar assistindo, passivamente, a memória da cidade ser reduzida a escombros?
Carlos Jardel