Segue o desabafo de uma professora da rede pública municipal de ensino de Camocim. Seu nome não será revelado para evitar possíveis represálias ou perseguição política.
"Imagine-se em uma sala de aula com 20 alunos, muitos deles necessitando de atenção especial. Você está sozinho, sem nenhum apoio, tentando atender a todos ao mesmo tempo. As crianças atípicas precisam de cuidados específicos, mas você não tem orientação nem suporte adequado. Até mesmo ir ao banheiro se torna um desafio.
É um verdadeiro descaso.
Minha colega, que atua na outra sala, enfrenta uma situação ainda mais delicada. Ela cuida de duas crianças autistas, uma delas não verbal e a outra que passa o tempo todo gritando. Não se trata de culpa das crianças — elas são inocentes e merecem respeito e cuidado. O problema está na falta de estrutura, de planejamento e de compromisso da gestão com a realidade das salas de aula.
A educação inclusiva não pode ser apenas um discurso. Sem apoio, sem recursos e sem profissionais capacitados para auxiliar, o que enfrentamos todos os dias não é ensino — é sobrevivência.
A gente se dedica, trabalha duro, enfrenta pressões diárias e, quando nossa saúde começa a sofrer—seja física ou mentalmente—nem sequer temos o direito de uma licença-prêmio para cuidar de nós mesmos. É desanimador saber que, mesmo depois de tanto esforço, ficamos desamparados diante da necessidade de um tempo para recuperação".
