"Respeitável público! Boa noite! O espetáculo vai começar!"
Por Inácio Santos
Quando o circo chegava à cidade, era uma verdadeira festa. A caravana circense desfilava pelas ruas principais, apresentando ao público todo o seu aparato de artistas: palhaços, malabaristas, mágicos, trapezistas, bailarinas, equilibristas e domadores. Animais — alguns ferozes — eram mantidos enjaulados, mas, por conta da lei de proteção aos animais, esse tipo de atração já não é mais permitida. Enquanto isso, o locutor anunciava o espetáculo.
O circo mudava completamente a rotina da cidade. Era sinônimo de alegria, descontração e desafios, trazendo números fantásticos. Os palhaços, com seus trejeitos e caras pintadas, encantavam o público. A magia do circo estava em cada detalhe. As crianças deliravam, e os adultos fingiam levar os filhos, mas, na realidade, tudo não passava de um pretexto para irem ao circo também.
No circo, tudo é mágico, desde a hora da chegada até a montagem da estrutura: fixação dos mastros, levantamento da lona, construção do picadeiro e das arquibancadas. O plantel dos artistas, os trailers, os anões, os vendedores de pipoca, doces, sorvetes e balas — o circo é uma pequena ilha recheada de magia e sedução. Quando os holofotes se acendem, o mestre de cerimônias brada em alto e bom som:
— Respeitável público!
Começa então o grande espetáculo. Diante dos olhos ávidos da plateia, desfilam dançarinas, malabaristas, equilibristas, atiradores de faca, mágicos, trapezistas e palhaços. Tudo ocorre em um sequencial programado, sempre com a tradicional deixa:
— O espetáculo não pode parar!
O público aplaude, vaia, ri e chora. Um verdadeiro bálsamo para aliviar o estresse do dia a dia. Todos voltam para casa mais leves e contentes. No outro dia, os comentários se espalham:
— Foi bom!
— Você viu aquele número?
Por Camocim passaram vários circos — grandes e luxuosos, bem como médios e pequenos.
Um dos mais icônicos era o Circo do Panelinha. Pequeno, pobre, sem cobertura — apenas com a lona lateral, chamada pejorativamente de "penico sem tampa". O senhor Hildebrando, além de ser o proprietário, também era o palhaço Panelinha — daí o nome do circo.
Quando o Circo do Panelinha chegava, a molecada exultava. O palhaço Panelinha percorria as ruas principais vestido a caráter, anunciando o espetáculo. A meninada acompanhava o coro, respondendo aos jargões ensaiados:
— Hoje tem espetáculo?
— Tem, sim, senhor!
— Olha o palhaço na linha!
— Ladrão de galinha!
— E o palhaço, quem é?
— Ladrão de mulher!
Como prêmio, cada criança que participava da brincadeira ganhava um passe para assistir ao espetáculo gratuitamente.
Quando o circo é pequeno, por não ter um grande plantel de artistas, o palhaço se torna peça fundamental para o seu sucesso. Panelinha, além de muito engraçado, era um grande prestidigitador: retirava moedas do nariz das crianças e apresentava seu número mais famoso — transformar um menino da plateia em galinha. Fazia o escolhido pôr um ovo em pleno palco — um truque imperceptível. O coitado da vez tinha que se esconder por um bom tempo, pois virava alvo de gozação até que surgisse a próxima vítima do Panelinha.
O Circo do Panelinha, bem como o próprio palhaço, deixou saudade. No entanto, em detrimento da tecnologia, da internet e das redes sociais, o circo continua vivo, pois somente ele consegue penetrar na pureza da alma infantil com a magia dos contos de fadas. Além disso, faz despertar a criança que fomos e que sempre existirá dentro de cada um de nós.
Fiquei triste ao ouvir, recentemente, um carro de som anunciando um espetáculo circense cuja principal atração seria um concurso para premiar quem melhor imitasse uma dancinha do TikTok.
Oxalá isso seja um caso isolado e tal prática não se dissemine. Que o circo continue preservando sua nobre essência: magia, alegria e encantamento.
Para que, ao acenderem-se as luzes do picadeiro, o mestre de cerimônias nos transporte para o mundo dos sonhos e da fantasia ao pronunciar o mágico bordão:
— Respeitável público! Boa noite! O espetáculo vai começar!
Inácio Santos