Em nota, mais de 60 entidades pedem justiça pela morte de Zé Maria do Tomé - Revista Camocim

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Em nota, mais de 60 entidades pedem justiça pela morte de Zé Maria do Tomé


Após 14 anos do crime, um novo júri do caso Zé Maria do Tomé foi marcado para o próximo dia 9 de outubro, no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, às 9 horas. O ambientalista, que lutava contra a pulverização aérea de agrotóxicos, foi morto numa emboscada, no dia 21 de abril de 2010, com mais de 20 tiros, em Limoeiro do Norte.


Sentará no banco dos réus Francisco Marcos Lima Barros, um dos seis suspeitos de envolvimento na execução, que responde em liberdade. Os homens apontados pela investigação como mandantes foram pronunciados, mas recorreram ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará e tiveram ganho de causa.


Diante da aproximação do julgamento, diferentes entidades em defesa dos direitos humanos, movimentos populares, ambientalistas, organismos da Igreja Católica, militantes sociais e pesquisadores, sobretudo que atuam na região da Chapada do Apodi, emitiram uma nota pedindo justiça para Zé Maria do Tomé.


No texto, além de reforçar que seguirão vigilantes e atuantes na denúncia “dos males causados pelo agronegócio, que envenena e mata o povo brasileiro”, as organizações pedem que haja condenação do envolvido. Mas além disso, esperam que novos elementos possam levar os mandantes do crime ao banco dos réus.


Confira a nota na íntegra:


*Júri popular de acusado pela morte de Zé Maria do Tomé ocorrerá em outubro*


José Maria Filho, mais conhecido como Zé Maria do Tomé, era agricultor e líder comunitário na região da Chapada do Apodi, município de Limoeiro do Norte, tendo como luta o combate da pulverização aérea de agrotóxicos e o assentamento de pequenos agricultores nos perímetros irrigados Jaguaribe-Apodi.


Foi assim que Zé Maria, juntamente com organizações comunitárias, pastorais da igreja, movimentos populares, pesquisadores(as) e a sociedade civil, conseguiu realizar pressão social sobre a Câmara Municipal de Limoeiro do Norte, para que esta aprovasse a Lei n° 1.278/2009, que proibia a pulverização aérea de agrotóxicos no município.  


Inédita no Brasil, esta lei passou a ganhar repercussão, e Zé Maria se dedicou a denunciar seu descumprimento. Com isso, as ameaças à sua integridade começaram a se intensificar.


Em 21 de abril de 2010, por volta de 15h, na localidade do Sítio Tomé, quando estava retornando para casa em uma estrada pouco movimentada e com vasta vegetação, Zé Maria do Tomé foi alvo de emboscada, sendo executado com mais de 20 tiros.


Um mês após seu assassinato a lei pela qual Zé Maria tanto batalhou foi revogada, causando ainda maior revolta e indignação.


14 anos depois do seu assassinato, o caso finalmente irá a julgamento. Marcado para o dia 9 de outubro de 2024, apenas Francisco Marcos Lima Barros, morador da comunidade de Tomé, que teria dado suporte ao crime, irá ao júri popular.


Isso porque dos seis suspeitos identificados pela investigação policial e pronunciados pela justiça estadual de Limoeiro do Norte (CE), em 19 de agosto de 2015, os dois acusados de serem mandantes do crime, dentre eles um grande empresário da região, conseguiram através de recurso ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, serem despronunciados. Dos outros 4 suspeitos, três vieram a falecer ao longo dos anos.


O Brasil ocupa o triste ranking de 4° país no mundo onde mais defensores de direitos humanos são assassinados. Não por menos, a complexidade relacionada ao crime levou que este fosse deslocado de Limoeiro do Norte para a capital do Estado do Ceará, 5ª Vara do Júri de Fortaleza.


O caso Zé Maria é emblemático no contexto dos crimes, assassinatos e violência no campo brasileiro. José Maria Filho foi assassinado por defender direitos humanos: direito ao meio ambiente, à terra e ao território, à saúde e à vida.


Nós, integrantes de organizações de direitos humanos, movimentos populares, pesquisadores/as que atuam na região, organismos da Igreja e militantes sociais, continuamos cada vez mais firmes em defesa da Chapada do Apodi, do meio ambiente, e da agricultura familiar e camponesa. Seguimos na denúncia dos males causados pelo agronegócio, que envenena e mata o povo brasileiro.


Esperamos que o julgamento ocorra e que haja a condenação. Contudo, esperamos igualmente que novos elementos possam levar os mandantes desse crime, maiores responsáveis por essa atrocidade, a sentarem no banco dos réus, podendo a justiça por fim se concretizar.


"Companheiro Zé Maria, aqui estamos nós, falando por você já que calaram sua voz!”


*Assinam a nota:*


1. Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares- RENAP

2. Acesso - Cidadania e Direitos Humanos

3. Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar

4. Escritório de Direitos Humanos Dom Aloísio Lorscheider - EDHAL

5. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

6. Movimento Vinte e Um de Abril

7. Conselho Nacional de Ouvidorias de Defensorias Públicas

8. Fórum Catarinense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos -

FCCIAT

9. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST

10. Cáritas Limoeiro do Norte

11. Escola Família Agrícola Zé Maria do Tomé

12. Organização Popular - OPA

13. Grupo de Pesquisa, Campo, Terra e Território NATERRA

14. Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde - TRAMAS

15. Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos - FAFIDAM

16. Licenciatura em Educação do Campo - LECAMPO

17. Fundação de Educação e Defesa do Meio Ambiente do Jaguaribe - FEMAJE

18. Acampamento Zé Maria do Tomé

19. CSP Conlutas

20. Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino - MAIE/UECE

21. Instituto Terramar

22. Associação para Desenvolvimento Local Co-produzido - ADELCO

23. ESPLAR - Centro de Pesquisa e Assessoria

24. Laboratório de Estudos do Campo, Terra e Território - LECANTE

25. Observatório do Uso de Agrotóxicos Consequência para a Saúde Humana e Ambiental no Paraná

26. Associação Alternativa Terrazul

27. Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente - FBOMS

28. Grupo de Pesquisa Territórios do Semiárido - SEMIAR/UFRN

29. Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Ceará - SINDJUSTIÇA

30. Sindicato de Docentes da Universidade Estadual do Ceará - SINDUECE

31. Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior - ANDES

32. Quilombo Raça e Classe

33. Trabalho, Saúde, Meio Ambiente e Subjetividade - TRASSUS/UFC

34. Juventude Anticapitalista - RUA

35. Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes

36. Coletivo Ecossocialista e Libertário - Subverta

37. Juventude Franciscana - JUFRA

38. Reconstrução Democrática - Insurgência

39. Frente de Luta por Moradia Digna

40. Coletivo Pajeú

41. Ação Popular Socialista - APS

42. Movimento SOS Chapada dos Veadeiros

43. Rebelião Ecossocialista - PSOL

44. Núcleo RN do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental

45. Movimento Juntos

46. Crauá Coletivo Ambiental

47. Conselho Pastoral da Terra Nacional

48. Fórum de Políticas Ambientais do Grande Bom Jardim

49. Núcleo de Estudos Sobre a Mulher Simone de Beauvoir - FASSO/UERN

50. Diretório Central dos Estudantes Romana Barros - UFERSA

51. Grêmio Estudantil Valdemar dos Pássaros - IFRN

52. Grupo de Pesquisa Poder, Estado e Sociedade - GEPES/UERN

53. PSOL Limoeiro do Norte - CE

54. Coletiva Vozes Feministas

55. Centro Acadêmico de Serviço Social Sâmya Rodrigues Ramos - UERN

56. Centro Acadêmico Serviço Social - UERN

57. Projeto de Estudos e Práxis Marxistas -PEPM/ UERN

58. Diretório Central dos Estudantes - Anatália de Melo Alves/UERN

59. Centro Acadêmico de História Professor Gilmar Rodrigues - UERN

60. Sementes e Proteção

61. Centro de Referência em Direitos Humanos do Semiárido - UFERSA

62. CERESTA - Limoeiro do Norte

63. Conselho Municipal de Saúde - CMS Limoeiro do Norte


Blog do Roberto Moreira