O fenômeno conhecido como maré vermelha, que acontece quando há um acúmulo de microalgas com potencial tóxico, afeta parte do litoral de Pernambuco e de Alagoas desde o último mês, gerando um alerta para o Ceará. Mais de 400 pacientes tiveram intoxicação no mar e precisaram de cuidados médicos nos estados vizinhos, nesse período.
Por causa dessa situação, equipes pernambucanas e alagoanas realizam sobrevoos e recolhem amostras para monitorar a situação e evitar novos episódios de intoxicação. As informações foram publicadas pela Agência Brasil. Mas, afinal, qual o risco do Ceará ter a formação de marés vermelhas?
Esse fenômeno é causado pela proliferação das microalgas (seres tão pequenos que só são vistos por microscópio) tóxicas ou não e que estão presentes no litoral cearense. Porém, a formação da maré vermelha está ligada a altas temperaturas, salinidade e a presença de muitos nutrientes na água – uma marca da poluição por esgotos, por exemplo.
Marcelo Soares, pesquisador e professor no Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), indica que “pode acontecer no Ceará”, mas o Estado está menos vulnerável do que Alagoas e Pernambuco.
“O litoral do Ceará é aberto e não tem muitos lugares com água calma, que é o ideal para que as microalgas se proliferem. Porém, nós temos alguns lugares assim, como áreas abrigadas de porto e áreas de aterro”, pondera.
Os espigões, inclusive, também geram áreas mais vulneráveis à maré vermelha pela calmaria da água. “A Praia do Futuro tem essas microalgas e na época da (proposta de) dessalinização a gente estava analisando a água já para se precaver, porque com a intoxicação se perde água”, contextualiza Marcelo.
Nossa região é muito dinâmica e com o vento é muito forte e isso diminui muito o risco
MARCELO SOARES
Pesquisador
Na Praia de Tamandaré, em Pernambuco, pesquisadores da Universidade Federal (UFPE) estão coletando amostras para identificar geneticamente quais microalgas são responsáveis pelas marés vermelhas que acometem o litoral da região, com maior frequência, desde 2021. No momento, acredita-se que mais de uma espécie esteja ligada ao fenômeno.
Em anos anteriores, estudos realizados identificaram que a cianobactéria conhecida como Trichodesmium erythraeum era a causadora das florações e dos registros de intoxicação em Pernambuco.
Essa microalga já foi identificada na região do Pecém, no Ceará, e no estuário do Rio Pacoti. "Nós temos um alto potencial de que aconteça aqui, mas oficialmente nesta escala que está acontecendo em Pernambuco a gente não teve, mas pequenas manchas já encontramos nos últimos 5 anos", detalha Marcelo.
Contudo, essas florações foram pequenas e com baixo impacto, mas servem como indicativo da necessidade de monitoramento. Ainda são feitas análises sobre a possibilidade das microalgas avançarem entre estados.
As marés vermelhas deixam de ser um problema naturalmente, entre 3 e 4 dias, com a dispersão dos microrganismos no mar.
Prejuízos para o mar e banhistas
De imediato, as marés vermelhas causam manchas e um mau cheiro no mar. As toxinas das microalgas podem contaminar a água e oferecer risco para os banhistas que, ao se contaminarem, podem apresentar sintomas como irritação nos olhos e até náusea.
Sintomas de intoxicação na maré vermelha:
- Enjoo
- Diarreia
- Irritação nos olhos
- Dor de cabeça
- Náusea
Além disso, o fenômeno também deixa prejuízos para a vida marinha. “Como a maré vermelha produz muita matéria orgânica, ela causa outro problema no mar: a baixa oxigenação do oceano”, acrescenta Marcelo.
Com isso, peixes e outros animais são afetados pela falta de oxigenação e podem até morrer devido ao excesso de matéria orgânica.
Diário do Nordeste