Enquanto o Brasil chegou ao fim de 2023 com o recorde de mortes por dengue pelo segundo ano consecutivo, o Ceará registrou o menor número de óbitos causados pela doença nos últimos 16 anos. Das 1.079 mortes confirmadas pela doença em todo o País, oito ocorreram no Estado — e uma segue em investigação. Esse cenário pode ser explicado pela ocorrência de um período “inter-epidêmico” no Ceará, ao mesmo tempo, em que a dengue chegou a locais que não haviam enfrentado problemas com a doença anteriormente.
O número de vítimas da dengue no Ceará neste ano é o menor desde 2007, quando iniciou a série histórica divulgada pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) no boletim epidemiológico mais recente, publicado no início de dezembro. O Painel de Monitoramento das Arboviroses, do Ministério da Saúde (MS), que foi atualizado na última quarta-feira (27), também aponta 8 óbitos confirmados no Estado e 1 em investigação.
Os dados nacionais dizem respeito ao cenário de 2023, até o último dia 27, e ultrapassaram os registros de todo o ano de 2022, quando houve 1.053 óbitos. Até então, esse tinha sido o maior número de mortes no período de um ano completo, segundo a série histórica do Ministério da Saúde. Em seguida aparecem os anos de 2015, quando ocorreram 986 óbitos, e 2019, com 840 mortes.
DENGUE NO CEARÁ
A dengue intercala epidemias — em que um dos quatro sorotipos do vírus causador da doença (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) é predominante — com períodos de 3 a 5 anos em que ocorre menor número de casos. Quando um sorotipo que não circulava há algum tempo volta a ser introduzido na localidade, um grande número de pessoas pode ser infectado, ocasionando outro surto.
A distribuição dessas epidemias, porém, varia entre as regiões brasileiras e tudo aponta que o Ceará está em um desses períodos “inter-epidêmicos”. A explicação é de Robério Leite, professor adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e representante regional da Sociedade Brasileira de Imunizações no Estado.
O clima e as medidas de controle de multiplicação do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, também podem ajudar a explicar o nosso cenário recente no Ceará, segundo o professor. “Temos que estar atentos constantemente, pois sabemos que, após um período mais calmo, vão-se criando as condições para a ocorrência de uma nova grande situação epidêmica”, alerta.
O registro de infecções pelos sorotipos DENV-3 e DENV-4 em outros estados do País deve acender um alerta para o Ceará. A reintrodução de um deles pode levar a “epidemias importantes com casos graves e óbitos”, destaca a presidente da Sociedade Cearense de Infectologia e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lisandra Serra Damasceno.
“A população está bastante suscetível por não haver contato com estes sorotipos há bastante tempo e por grande parte da população já ter tido infecção prévia para os sorotipos 1 ou 2, o que representa um fator de risco para casos graves”, explica Damasceno.
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