Estar sentado vendo TV e, de repente, perder o movimento de um lado do corpo. O cenário súbito é preocupante, mas pode acontecer quando o assunto é Acidente Vascular Cerebral (AVC) – o popular “derrame”. Apesar de gravíssimo, ele pode ser silencioso.
Dia Mundial do AVC, 29 de outubro, entra em pauta o alerta para a necessidade de saber quais os fatores de risco, quais os sinais e sintomas, o que fazer em caso de AVC e como prevenir esta que é a 3ª maior causa de mortes no Ceará, em 2023.
O neurologista Fabrício Lima, chefe da unidade de AVC do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), destaca que “eles são responsáveis por 90% dos casos” – o que significa que o AVC é uma doença quase totalmente prevenível.
O médico lista como principais fatores de risco a “pressão alta, diabetes, colesterol elevado, arritmias cardíacas, tabagismo, consumo de álcool em grandes quantidades, má alimentação, inatividade física e, hoje, o estresse”.
“O estresse permeia nossa vida, mas podemos impedir que essa condição leve a um sono e alimentação inadequados ou à falta de atividade física. Ele em si é um fator de risco importante, e, além disso, muitas vezes nos impede de ter um estilo de vida saudável”, ilustra Fabrício.
O médico Bruno Cavalcante, clínico geral e professor universitário, reforça que “o AVC não dá sinais de que vai acontecer”, na maioria das vezes, e que, por isso, é preciso focar na prevenção.
É como se o vaso que leva o sangue pro cérebro fosse um cano, que com a má utilização, vai enchendo de gordura na parede. Até que entope e não consigo levar irrigação pro cérebro. Por isso é súbito: às vezes a pessoa está dormindo ou fazendo alguma atividade.
BRUNO CAVALCANTE
Médico clínico geral
O neurologista Fabrício Lima acrescenta que “em uma parte das vezes, o AVC pode manifestar sintomas dias ou semanas antes de acontecer, mas na grande maioria das vezes ele acontece de forma repentina”.
QUAIS OS SINTOMAS OU SINAIS DO AVC
Quando o AVC manifesta sintomas, estes “são facilmente reconhecíveis”, como descreve o neurologista do HGF. Ele sugere uma dica de testes que podem ajudar a identificar o acidente vascular: a chamada “escala Samu”.
S de sorriso: se a pessoa tem a boca torta, assimetria da face, pode ser um sinal;
A de abraço: peça à pessoa para te abraçar, e se ela não consegue elevar um dos braços, pode ser um sinal;
M de mensagem: pela para a pessoa falar e te ouvir, se ela tiver dificuldade disso, então…
U de urgente: ligue para o Samu 192 e busque atendimento médico.
Dor de cabeça muito forte e repentina, “como um trovão na cabeça”, também pode ser um sintoma do agravo, como orienta Fabrício Lima.
“O atendimento do AVC é muito dependente do tempo: quanto mais precoce, maiores as chances de recuperação. Uma vez que a pessoa é levada ao hospital, rapidamente realiza uma triagem e, depois disso, é desencadeada uma série de procedimentos para decidir o tratamento”, descreve o profissional de saúde.
COMO PREVENIR O AVC
Médicos são unânimes ao afirmarem que a prevenção do AVC se dá, principalmente, por meio da adoção de hábitos mais saudáveis. O clínico Bruno Cavalcante frisa que “quanto mais comorbidades o paciente tem, mais é preciso redobrar a atenção e controlar de forma mais intensiva os níveis de colesterol”.
Fernando Guanabara, médico nutrólogo, alerta que “uma dieta composta por alimentos embutidos, industrializados e, principalmente açucarados, favorece o aumento do percentual de gordura, o que gera inflamação no corpo – principal fator de risco para o AVC”.
“O AVC está associado a um processo inflamatório crônico subclínico. Com alimentação anti inflamatória, conseguimos consumir nutrientes antioxidantes e, consequentemente, eles podem ajudar na prevenção”, situa.
“Atividade física é uma das principais formas de prevenção, principalmente associada a uma alimentação saudável. Além disso, ela favorece o controle do colesterol, da glicemia, promove um equilíbrio hormonal, e tudo isso contribui para a prevenção do AVC”, adiciona Guanabara.
No Ceará, 41,3% da população não pratica exercícios físicos de forma suficiente – entre os homens, são 36,8% sedentários; entre as mulheres, são 45,1% sem prática adequada de atividades.
Os dados são da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), que entrevistou 800 adultos de Fortaleza entre dezembro de 2022 e abril de 2023.
O levantamento aponta, porém, para uma esperança: um leve aumento do número de pessoas que praticam atividades físicas no tempo livre por, no mínimo, 150 minutos semanais. Em 2022, 38,1% dos fortalezenses se exercitavam; o que subiu para 39,8% neste ano.
Diário do Nordeste