A abertura do Encontro Regional do PDT, na noite desta quinta-feira (22), acabou por demonstrar a dimensão da crise pela qual passa o partido no Ceará. Sem a presença do senador Cid Gomes (PDT), o evento acabou sendo esvaziado, sem a presença de ampla maioria de parlamentares estaduais e federais da bancada pedetista cearense.
Se, no Estado, o PDT possui a maior bancada na Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa, os números não se refletiram no palco do evento. A principal presença foi de vereadores da Capital. Dos 13 deputados estaduais, apenas três estiveram presentes, enquanto dos 5 federais, apenas dois compareceram.
Um deles foi o deputado federal André Figueiredo (PDT) que, por sinal, tem sido um dos protagonistas do mais recente episódio do racha do partido - que se arrasta desde a campanha eleitoral de 2022.
O senador Cid Gomes tem demonstrado, desde maio, o interesse em assumir a presidência do PDT Ceará - cargo ocupado por Figueiredo, que acumula também o comando da Executiva nacional do partido.
Após reunião realizada na tarde desta quinta-feira, o impasse continua sem solução, o que teria motivado, inclusive, a ausência de Cid e de aliados no encontro regional. Por outro lado, nos discursos, lideranças do PDT Ceará como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), aproveitaram para reforçar o apoio a Figueiredo.
O Diário do Nordeste separou os destaques do encontro regional do partido em Fortaleza:
AUSÊNCIA DE CID GOMES E ALIADOS
Apesar de ser anunciado como um evento regional - que deveria reunir lideranças do PDT de todo o Nordeste -, o encontro regional acabou não contando com a presença de muitas figuras importantes do PDT Ceará.
O senador Cid Gomes, que era presença confirmada, desistiu de ir apenas algumas horas antes da abertura, na noite da quinta-feira. O motivo teria sido, conforme noticiado pelo colunista Inácio Aguiar, reunião realizada mais cedo entre o ex-governador, André Figueiredo e outros parlamentares do PDT.
A intenção, segundo deputados, era a de convencer Figueiredo a passar o comando do partido a Cid, que hoje é vice-presidente do diretório estadual.
Desde que anunciou a intenção de presidir a sigla - alegando representar o "sentimento majoritário" dos pedetistas -, Cid tem recebido apoio de parlamentares cearenses, principalmente aqueles que defendem uma posição alinhada com o governador Elmano de Freitas (PT) e o ministro da Educação, Camilo Santana (PT).
Muitos, inclusive, colocam na presidência de Cid a única possibilidade de reunificação da legenda e ventilam a possibilidade de um esvaziamento caso o senador decida mudar de partido.
Contudo, sem uma solução para o impasse sobre o comando do PDT Ceará após reunião com Figueiredo, Cid cancelou a ida ao encontro regional e aconselhou aliados a fazer o mesmo. Como resultado, apenas três deputados estaduais e dois federais participaram do evento.
Todos eles são alinhados à ala do PDT que defende uma posição de oposição do partido ao Governo Elmano, sendo liderados por Ciro Gomes e Roberto Cláudio.
Ao final do evento, ao ser questionado sobre atrair pedetistas ligados a Cid ao núcleo pedetista, Ciro disse ser "improvável".
APOIO A ANDRÉ FIGUEIREDO NA PRESIDÊNCIA
Na chegada ao evento, André Figueiredo comentou sobre a disputa pelo comando do PDT Ceará. Ele afirmou que "é direito" de qualquer filiado pleitear a presidência do partido, mas que esta discussão vai ser feita "no momento adequado". "Agora o meu mandato vai até dezembro e, a partir daí, a gente conversa", disse.
No entanto, sem a presença de Cid e aliados - defensores da troca no comando do partido -, as lideranças pedetistas que compareceram ao encontro regional aproveitaram para reforçar o apoio a Figueiredo.
"Se o André hoje tem antagonismos dentro do PDT, acreditem, não é pelos defeitos do André, é pelas virtudes do André, pelo compromisso canino com o PDT. (...) André, você conta comigo, nós precisamos de você em nome da unidade do partido", ressaltou Ciro, durante o discurso.
Para Roberto Cláudio, Figueiredo é "a única liderança capaz hoje de dialogar com as diferenças com as quais o PDT convive hoje". Para o ex-prefeito, que preside o PDT Fortaleza, as "diferenças que perseveram" no partido atualmente são frutos de "um pedaço minoritário do partido que não seguiu a decisão de candidatura a presidente" nas últimas eleições.
Figueiredo disse que a intenção agora é "construir pontes, construir caminhos", mas que, caso o impasse seja transformado em um debate público, "eles vão ficar falando sozinhos, porque são questões intrapartidárias".
Sobre os riscos da saída de pedetistas, ventilada por parlamentares no caso de Cid não assumir a presidência do PDT, ele considera "natural" que pessoas "que não se sintam bem no partido, queiram sair". Contudo, ele aproveitou para relembrar que "a janela partidária para deputado é em março de 2026".
DEFESA DE PRÉ-CANDIDATURA DE SARTO
Prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT) chegou ao espaço do encontro regional nos braços de apoiadores e com gritos de "Sarto, prefeito, vai ser reeleito!"
Apesar do apoio, o prefeito preferiu desconversar ao ser indagado sobre a disputa eleitoral de 2024, quando poderá disputar a reeleição para a Prefeitura.
"Eu estou preocupado com a gestão. O debate eleitoral se fará na hora, no momento adequado. Nós temos ainda meio ano para atravessar recuperando a economia no pós-pandemia e tem muita coisa ainda pra fazer na questão de gestão".
JOSÉ SARTO (PDT)
Prefeito de Fortaleza
Os correligionários, contudo, fizeram questão de ressaltar a importância da Fortaleza - única capital comandada pelo PDT - e elogiar a gestão do prefeito durante o evento.
Ciro Gomes, por exemplo, afirmou que Sarto é um "modelo" na gestão municipal. Já André Figueiredo afirmou que a Prefeitura de Fortaleza é "prioridade" do partido "não apenas no Estado do Ceará, mas nacional”. "Para que nós possamos reeleger o prefeito Sarto", reforçou.
Diário do Nordeste