O padre Lusmar, novo pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus dos Navegantes de Camocim, já deixou claro que planeja ser parceiro dos poderes públicos do município — Legislativo e Executivo. Visitou na quarta-feira (8) a prefeita de Camocim, Elizabeth Magalhães, em seu Gabinete, e participou, na sexta-feira (10), da Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores. Ele se pronunciou: “é bom quando a gente faz essa missão de pastoreio juntos, de mãos dadas (…) já estive em Tiangua, Ibiapina, Ubajara, São Benedito, e a gente sempre procurou esse diálogo, a gente sempre procurou tá perto, porque eu sempre tenho a expressão que: 'a gente com mãos dadas, a gente consegue fazer mais, do que a gente ficar só apontando'. Às vezes a gente pode até contribuir, mas, o efeito ou o resultado não é o mesmo da gente tá junto, puxando, segurando na mão um do outro em prol do bem comum”.
Então…
Primeiramente é preciso dizer que o padre não está errado! Mas, é preciso que se diga, também, o seguinte:
1 - essa parceria deve estabelecer limites, para não deixar o líder religioso cego, surdo e mudo para as situações de morte, provocadas pelos ditos 'parceiros': fome, desemprego, problemas gritantes na saúde pública, perseguições, corrupção, etc.
A Igreja é — pelo menos na teoria — a voz dos que sofrem. Ela tem, por tanto, o dever pastoral de ajudar o povo a se organizar e lutar, reivindicando seus diretos.
2 - a parceria não pode significar submissão ou cumplicidade, pois a Igreja tem o dever profético de denunciar as opressões e os opressores do povo. [se bem que a prática da profecia já está em acelerado processo de extinção no Clero].
3 - quando o padre recorre a ajuda do governo e do legislativo, em prol do povo, não está pedindo favor. Está cumprindo seu papel social e pedindo para o governo cumprir a sua 'obrigação'.
4 - quando o governo cumpre seu dever, a pedido da força religiosa, não deve pensar que “deu um cala-boca no padre/na Igreja”. E se o padre cala a boca, por conta disso, deveria se confessar ou largar a batina.
Saiba: existem padres com a coragem do Evangelho, fazendo jus ao canto: “viemos para incomodar”, e outros que — não é o caso do Lusmar — adoram o conforto, as regalias e a bajulação dos políticos. São as figuras da bíblia denunciadas por Jesus, os“sepulcros caiados”.
5 - o simples fato de vereadores e prefeita/o serem frequentadores de missas, não significa dizer que sejam agentes políticos promotores do Bem e da Justiça. Parte significante promovem o mau e a morte dos pobres. E no caso dos 'misseiros de Camocim', respeitando as exceções, lógico, afirmo, sem medo de errar: não são flores que se cheirem!
Carlos Jardel