A mártir Benigna Cardoso foi, oficialmente, reconhecida pela Igreja Católica como a primeira Beata do Cariri e do Ceará nesta segunda-feira (24). O reconhecimento é feito 81 anos após ela ter sido martirizada em sua cidade natal, Santana do Cariri, no mesmo dia, em 1941. A Celebração da Beatificação, que ocorreu no Parque de Exposição Pedro Felício Cavalcanti, em Crato, foi presidida por Dom Leonardo Steiner, Arcebispo de Manaus, que foi nomeado pelo Papa Francisco para a importante missão.
Como avalia Dom Leonardo, o momento é histórico para todo o Brasil. “Termos uma tão jovem menina nos altares e podermos invocá-la é, para todos nós, uma grande alegria”, relata, ao dizer que se sente honrado por presidir a celebração. “É um exemplo de santidade que, na Igreja, nos eleva, nos atrai. Com tanta simplicidade, com tanta candura, faz perceber que vale a pena seguir Jesus e o evangelho”, conta.
O anúncio da beatificação de Benigna, considerada como “heroína da castidade”, foi feito ainda no mês de maio, pelo bispo diocesano, Dom Magnus Henrique. Agora, terá início o processo de canonização, que requer a comprovação de um milagre atribuído à religiosa. “Recebendo a aprovação do milagre, vai acontecer todo caminho de documentação para a canonização. O mais importante, agora, é o milagre”, pontua.
A entronização de Benigna – a primeira vez que a imagem dela entrará oficialmente em uma igreja – ocorre nesta terça (25), em Santana do Cariri. “Não somente na Matriz de Santana, mas qualquer igreja vai poder fazer esse gesto”, afirma Padre Paulo Lemos, pároco local. Para homenagear Benigna e fomentar o turismo religioso no Cariri, um Centro de Peregrinação está sendo construído em Santana. No projeto, do Governo do Estado, o espaço contará com estátua em homenagem à Benigna.
[via Jornal do Cariri]
Saiba quem foi Benigna Cardoso da Silva, cearense morta aos 13 anos beatificada pela Igreja Católica
Benigna foi brutalmente assassinada aos 13 anos em 1941 por um rapaz que a assediava. Ela é venerada por católicos como um mártir da pureza e da castidade.
Ainda com 12 anos de idade, Benigna começou a ser assediada por Raul Alves, quatro anos mais velho que ela. Os dois estudavam no mesmo colégio e o rapaz começou a persegui-la. Benigna recorreu ao então pároco da cidade, o padre Cristiano Coelho, para falar do assédio. Ele a aconselhou a ir estudar na sede do município e lhe presenteou com uma Bíblia que, segundo sua biografia, tornou-se o seu livro de cabeceira.
Em 24 de outubro de 1941, Benigna foi ao poço com seu pote para pegar água e Raul estava à espreita, perseguindo ela. O jovem tentou estuprá-la e, com a resistência de Benigna, a matou.
“Ela rejeitou por ver no ato uma ofensa a Deus e, em consequência, ele a golpeou várias vezes com facão, tirando a sua vida. Desde então, ela é invocada como mártir, heroína da castidade, mártir da pureza”, disse Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant’Ana de Santana do Cariri, cidade natal de Benigna, à agência Vatican News.
Raul Alves foi preso, ficou numa casa para recuperação de menores em Fortaleza, até chegar à maioridade. Ele cumpriu pena e voltou ao local do crime 50 anos depois para pedir perdão à família de Benigna.
Benigna Cardoso da Silva nasceu no Sítio Oiti, em Santana do Cariri, no dia 15 de outubro de 1928. Os pais biológicos morreram e ela foi adotada, junto aos seus irmãos mais velhos, pela família Sisnando Leite.
Decreto
O papa Francisco assinou em outubro de 2019 o decreto que reconhece o martírio da menina brasileira – a declaração é decisiva para a beatificação, já que assim não é necessário reconhecer um milagre.
Desde maio de 2019, o dia 24 de outubro é também o Dia de Combate ao Feminicídio no Ceará. A data foi instituída pela Lei 16.892, que prevê a realização de campanhas, debates e seminários para conscientizar a população sobre a importância do combate ao feminicídio e a outras formas de violência contra as mulheres.
“Benigna, em vida, foi vista como uma pessoa santa. Era muito dedicada aos estudos – era a primeira da classe, caridosa, amante da natureza e dos animais, extremamente religiosa, com assídua participação na Eucaristia aos domingos. Recebeu de presente uma Bíblia do pároco na época que virou livro de cabeceira: ela lia as histórias e trazia para a sua vida como reflexão, transmitindo aos amigos e sendo até catequista por ensinar a Palavra de Deus. E também nutria devoção especial a Nossa Senhora do Carmo, a quem sempre invocava para a livrar do inferno”, conta ainda Danilo Sobreira.
Complexo de Benigna
No local, de difícil acesso, da morte da jovem foi erguido um monumento com uma cruz, além de uma lápide e um memorial que conserva alguns de seus objetos pessoais. Católicos iam até lá para rezar e pedir a sua intercessão. Em 2005, foi construída uma capela em uma área próxima para receber os romeiros.
Perto da pequena capela está em construção o chamado Complexo de Benigna. A previsão de entrega da obra está prevista para agosto de 2023. O local vai contar com uma estátua de mais de 20 metros e um espaço para oração que será chamado de Santuário de Benigna, segundo explica Ypsilon Felix, secretário de Cultura de Santana do Cariri à agência Vatican News. “São mais de 48 mil metros quadrados de área, com capacidade para abrigar mais de 100 mil romeiros, com áreas para estacionamento, ambulantes e grandes celebrações.”
Francineide Pereira, agricultora e natural de Santana do Cariri, é uma entre as milhares de santanenses que está participando da programação religiosa. Ela é devota de Benigna e batizou sua filha com o mesmo nome da nova beata para agradecer por uma graça alcançada. “Eu tive muito problema de pressão alta durante minha gravidez. Chegou a 20 por 18, era um sufoco! Quando eu fui ganhar minha filha, fui encaminhada para a cidade de Barbalha, já com uma vaga na UTI aberta. Já estava com começo de pré-eclâmpsia. Então eu pedi à menina Benigna que me ajudasse: ‘Minha santinha, se a senhora me ajudar para minha filha nascer com saúde e eu não sentir nada, ela vai ter o seu nome!’, e assim foi”, conta.
A pequena Benigna Maiara tem 5 anos e foi batizada, inclusive, com um vestido vermelho de bolinhas brancas, assim como é representada a mártir Benigna.
Maria da Penha é membro da comissão de acolhida do Santuário de Benigna, localizado no bairro Inhumas, em Santana do Cariri. Ela acompanha essa trajetória de fé popular há muito tempo e hoje diz que está com o coração a mil. “Eu sempre soube que esse dia iria chegar (da beatificação), mas eu ficava me perguntando qual geração minha que testemunharia isso. Agora, aqui estou eu testemunhando esse dia. Estou muito feliz!”
via o Estadão