Os corruptos agem e a educação paga o pato - Revista Camocim

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sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Os corruptos agem e a educação paga o pato

 


Por Andrea Ramal 


Quanto maior é a corrupção em um país, mais distantes seus cidadãos ficam de uma educação de qualidade e de um futuro melhor. Até porque educação é o oposto de corrupção. Corrupto é o adulterado, devasso, prevaricador; é quem tem maus hábitos morais, age de forma desonesta para tirar vantagens, se deixa perverter. A educação, ao contrário, remete a instrução e conhecimento, e também a gentileza e cortesia, a dotes intelectuais e morais, à civilidade e ao respeito. E essa diferença é facilmente constatada no Brasil: encheu-se o país de lama e agora, no atoleiro, a educação luta para sobreviver.


Lendo as notícias sobre os crimes atribuídos ao ex-Governador do Rio, Sérgio Cabral, incluindo o pagamentode propina e o desvio de verbas, lembrei-me de um encontro que tive com ele, quando acabava de assumir o primeiro mandato. Fui apresentar um projeto voltado à formação de professores. Ele me respondeu com entusiasmo: “Isso me interessa muito!”. Depois de ouvir a apresentação, não restava dúvidas de que queria realizá-lo, e logo.


Pois bem, o projeto jamais foi adiante, parado nas inúmeras idas e vindas de uma estrutura de governo que tinha outras prioridades. Dá para imaginar quantos bons projetos foram abortados, em tantas Secretarias do país, na mesma dinâmica. E mesmo que não fosse para tais projetos: onde estaria, afinal, a verba? Como explicar o enorme número de escolas sem manutenção, sem biblioteca e até sem quadra esportiva? Como justificar a falta de planos de carreira docente, o despreparo de tantos gestores escolares, o pouco investimento em pesquisa, os problemas envolvendo merenda e transporte escolar? Agora, basta ler os jornais dos últimos meses, para constatar que estudantes e educadores foram traídos.


Enquanto isso, seguimos em compasso de espera. Sem muita atenção da mídia e da própria sociedade em geral, a educação brasileira definha lentamente. Há milhares de crianças sem creche e pré-escola, a bola de neve do analfabetismo funcional continua a crescer, o ensino médio segue perdendo jovens e a educação superior pública está cada vez mais debilitada. O magistério se tornou uma profissão de passagem, enquanto não se consegue uma oportunidade melhor em outros campos. Em algumas escolas, não há mais aulas devido aos tiroteios do entorno. Em muitas, não há professores para todas as matérias.


Alguém arrisca um palpite sobre a nota do país no próximo Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica? Não é com um estalar de dedos que teremos melhoras. Ao contrário, mudar esse indicador requer muito foco, excelente gestão pública, acompanhamento e cobrança da sociedade, continuidade de ações. Não estamos nem perto disso – tanto que o Plano Nacional de Educação, até agora, praticamente nem saiu do papel.


Só que o tempo não parou para milhões de brasileirinhos que estão hoje nas escolas. E para aqueles que nem conseguem chegar lá. Eles não podem esperar. O que ocorre de bonito e emocionante na formação das crianças quase nunca deriva do sistema, mas sim do trabalho heroico de professores que vivem o ideal de transformar vidas. Como potencializar essas realidades? É difícil, num momento de efervescência política e econômica, dar atenção ao ensino. Mas os investimentos em qualidade da educação costumam reverter em desenvolvimento econômico e social para o país – tudo o que precisamos. Claro, leva em torno de 20 anos para começar a surtir efeito. Justamente por isso, deveríamos olhar para a educação antes que seja tarde demais.


G1 da Globo