O poder da palavra parte 3: as consequências para Bolsonaro - Revista Camocim

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sexta-feira, 10 de setembro de 2021

O poder da palavra parte 3: as consequências para Bolsonaro




Por Paulo Emanuel Lopes*


No dia 27 de agosto eu publiquei o primeiro artigo dessa série sobre o Poder da Palavra. Em “Deus disse Haja luz, e não quero luz: o que isso tem a ver com a sua vida?”, refleti sobre o cuidado que devemos ter ao falar, pensar ou mesmo desejar qualquer coisa, já que a palavra tem poder e pode influenciar nossos caminhos (não se trata, a priori, de um texto sobre política). Na sexta seguinte publiquei “Quem quer paz que se prepare para a guerra? A boca fala do que está cheio o coração”, onde teci uma crítica contundente ao Presidente da República que, ao invés de trabalhar pelos problemas dos brasileiros, prefere um discurso de guerra, violência e caos em seu afã de se manter no poder.


Então veio o 7 de setembro de 2021 e a tentativa frustrada de implantar um (novo) regime autoritário no País, que nem terminou ainda de chorar seus quase 600 mil mortos pela Covid-19. Todo mundo sabia que seria um festival de loucuras. O que poucos imaginavam é que seria um fracasso total.


Essa é a questão do Poder da Palavra: é fácil falar, difícil é arcar com as consequências. E igual culumim ruim, Bolsonaro teve que aprender com a dor (levando o Brasil junto). Pode até ser fácil derrubar o Supremo Tribunal Federal com um cabo e um soldado; mas certamente é bastante difícil governar uma Nação em meio ao caos.


No dia 08, pós-feriado da Independência, o mercado financeiro (ou seja, a classe dominante, importante apoiadora do presidente) trouxe notícias bastante negativas: o dólar subiu (nossa moeda desvalorizou-se, ou seja, ficamos mais pobres perante o mundo) e a principal bolsa de valores brasileira teve queda considerável (nossas empresas passaram a valer menos). O presidente do STF e do Senado emitiram recado grosso contra Bolsonaro. PSDB, PSD e outros partidos de centro e direita, que acompanhavam eventualmente o Governo em votações, passaram a falar abertamente em oposição e impeachment. Políticos de esquerda, direita, centro, jornalistas e até mesmo integrantes do Governo, aos sussurros ou publicamente, avaliaram que o movimento fora um tiro no pé.


Em apoio ao chamado do Presidente, um grupo de caminhoneiros organizou-se para fechar estradas brasileiras e, em meio ao caos, apoiar Bolsonaro e forçar a renúncia dos ministros do STF. Acontece que esse movimento dos caminhoneiros, categoria profissional muito importante e influente no País, não é apoiado pela grande maioria dos motoristas, mas por algumas empresas de transporte ligadas ao agronegócio e a outros empresários bolsonaristas. Em outras palavras: trabalhadores bem intencionados, a maioria desses “manifestantes” parece estar sendo usada como massa de manobra por seus patrões.


Acontece que, ao contrário do que a família presidencial sonha, o País não quer um Golpe de Estado, ruptura institucional. O brasileiro real, que nem dinheiro pra comprar uma camisa verde amarela da Seleção tem, quer feijão e não fuzil; quer emprego e comida na geladeira, não “guerra contra o comunismo”. Quer paz e prosperidade, não mentiras. Foi uma aposta alta. Não havia clima.


E como eu havia defendido no artigo do dia 27 de agosto, a Palavra tem poder. Bolsonaro terá que, mesmo tardiamente, arcar com as consequências de seus atos.


A primeira destas foi a greve dos caminhoneiros. O País já vive clima de inflação alta e desemprego, então, quando os caminhoneiros impedem que produtos cheguem às prateleiras, o aumento geral nos preços é imediato. Bolsonaro sentiu isso e viu que tinha que apagar ligeiro esse fogo. Enviou um áudio aos caminhoneiros solicitando que o movimento de obstrução das estradas fosse encerrado. Teve gente que não acreditou. O estrago na imagem do presidente perante a categoria foi forte.


A segunda consequência foi a briga com o STF. Bolsonaro mandou buscar em São Paulo o ex-presidente Michel Temer para aconselhá-lo. Raposa antiga da política brasileira, Temer escreveu a “Declaração à Nação” em que Bolsonaro até elogia o currículo do ministro Alexandre de Morais - aquele que, dois dias antes, havia chamado de “canalha” e dito que não obedeceria ordens.


Se a gente sente vergonha alheia com tantas idas e vindas, imagina quem apoia o presidente.


A terceira consequência é a perda de apoio popular. A ficha de muita gente está caindo sobre a real índole do Presidente. Ele não é homem de Deus, só usa Seu Santo Nome para angariar votos. Ele não é democrata, só se utiliza da Democracia para benefício próprio. Ele não é liberal na economia, porque na verdade ele não entende nada de Ciências Econômicas. Ele não é um “mito” ou “antissistema”, mas um político tradicional com uma lábia muito boa que enganou muita gente.


Mas apesar das coisas não terem saído como planejado, o Brasil não está a salvo das aventuras insanas desse cara. Sim, ele saiu mais fraco do que entrou no 7 de setembro de 2021. Mas o espírito de loucuras, violência e opressão ao pobre que marcam a história do Brasil, país que por quase 400 anos amargou a escravidão, continuam à solta.


É preciso parar Bolsonaro. É preciso que ele arque com as consequências dos seus atos. Se ele não foi punido pelas bombas que tentou explodir em quartéis, que seja pela tentativa frustrada de pôr fogo no Brasil (com nós, brasileiros, dentro).


Foto: The Intercept Brasil


*É jornalista e publicitário. Escreve às sextas.