Em um vídeo, publicado nas redes sociais, é possível ver o manifestante se dirigir aos presbíteros gritando "este padre [Lino Allegri] transformou o altar em um palanque político". Logo em seguida, os fiéis se alinham, em uma espécie de barreira, e pedem que o homem "respeite" a Igreja e saía do local. Alguns presentes também gritaram “fora Bolsonaro”. Acuado, o protestante se retirou.
Membros da Igreja colocaram a música da Oração de São Francisco de Assis, em que diz “onde houver ódio, que eu leve o amor, onde houver ofensa, que eu leve o perdão”.
A assessoria da Arquidiocese de Fortaleza taxou o episódio deste domingo (11) como "inadmissível".
“O padre está na paróquia, ele está exercendo o próprio ministério, e o ministério é acompanhando pela profecia, do ser profeta. Ser profeta é anúncio e denúncia. Todo profeta na Bíblia era encarregado de anunciar o Reino, mas também de denunciar as injustiças. [...] O padre está fazendo nada mais que o seu papel de sacerdote e profeta”, explicou.
Segunda a Polícia Militar, equipes do Batalhão de Policiamento de Prevenção Especializada (BPEsp) foram deslocadas para o local, por volta das 9h. Os agentes atuaram na mediação da situação de acirramento entre fiéis. Ainda conforme a autoridades, “o fato teve dimensões suaves e a ação das equipes policiais restabeleceu, imediatamente, a tranquilidade”.
A reportagem entrou em contato com alguns dos sacerdotes presentes na ocasião, mas eles não responderam ou se negaram a falar sobre o assunto, que o padre classificou como "estressante".
HOSTILIZAÇÃO APÓS MISSA
O primeiro caso de ofensas contra o Padre Lino, membro da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Fortaleza, aconteceu ao fim da missa do último domingo (4), realizada na Paróquia Nossa Senhora da Paz.
Durante o episódio, cerca de oito pessoas o hostilizaram depois do sacerdote lamentar a morte de 500 mil mortos pela Covid-19 no Brasil, denunciando o descaso político em meio à tragédia nacional.
Por conta do ocorrido, o Comitê Estadual de Políticas Públicas para a População em Situação de Rua (Cepop) do Governo do Ceará se solidarizou publicamente com o Padre Lino na última sexta-feira (9).
“Repudiamos violência, intolerância, fundamentalismo e posturas antidemocráticas com frequência ocorridos no Brasil e que carecem de punição e coibição”, acrescentam ainda, em nota publicada na página de Facebook da Secretaria de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos (SPS).
SOLIDARIEDADE AO PADRE LINO
Além do Cepop Ceará, outras entidades também se posicionaram solidárias ao Padre Lino. Nas redes sociais, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Ceará compartilhou nota repudiando as agressões verbais sofridas, relembrando que a figura sempre realizou um trabalho ao lado de pessoas em situação de vulnerabilidade.
“Sua vida tem sido uma referência de fé cristã comprometida com a libertação dos pobres. E somos testemunhas porque ele caminha conosco, sempre solidário com a luta do povo Sem Terra, da população em situação de rua e todas as lutas por libertação”, detalha o organismo.
A Pastoral do Menor Regional também manifestou apoio ao Padre após os insultos sofridos na sacristia da igreja. “Os fiéis que estavam nesse determinado domingo, os ditos "cristãos" que deveriam legitimar as práticas de justiça social que condizem com o reino de Deus, fizeram exatamente o contrário e usaram a casa de Deus para difundir palavras de ódio e incitar a violência”, detalham.
Considerando o atual momento da conjuntura política e social brasileira, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota na sexta-feira reafirmando a urgência de “defender as vidas ameaçadas, os direitos respeitados e para apoiar a restauração da justiça, fazendo valer a verdade”.