“Ele me deu um chute e uma pancada no rosto e eu fiquei atordoada. Entramos no carro. Não sei quanto tempo rodou, só sei que quando eu vim voltar a mim, estava com o olho muito inchado, doendo muito. Tinha sangue. E eu estava sem roupa, só com a roupa debaixo. E tomando choque, porque estava na água”, diz.
Iracema não sabe dizer ao certo em que ano nasceu. Ainda hoje, com idade estimada em 65 anos, ela luta para recuperar sua história, que foi interrompida no início da ditadura militar no Brasil. Em 1964, Iracema tinha cerca de 11 anos quando foi presa e torturada junto com sua mãe, uma professora militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Machucada, Iracema foi abandonada sozinha em uma praça no Recife, em Pernambuco. Nunca mais viu sua mãe, que se tornou uma desaparecida política. Sem família nem documentos, até a idade adulta sua vida foi itinerante e “sem título”, como ela própria define.
Por muito tempo, Iracema não se lembrava do próprio sobrenome e tinha apenas uma ideia nebulosa dos locais onde viveu antes de ser levada para o Rio de Janeiro por um casal de vizinhos. Mas a memória da tortura que sofreu nos porões do Doi-Codi no Recife permanece clara e traumática até hoje.
“Cinquenta e cinco anos é pouco para eu esquecer”, diz muito emocionada durante entrevista concedida ao G1 em apartamento em São Paulo, onde mora atualmente com um dos seus seis filhos. (Veja vídeo AQUI)