JESUS DEVERIA MORRER? - Revista Camocim

terça-feira, 1 de março de 2016

JESUS DEVERIA MORRER?


por Júnior Santiago

Jesus deveria morrer porque Ele assumiu carne mortal, o modo da morte é que poderia variar, isso é questão circunstancial. O que salva em Jesus é sua história de Deus no meio dos homens e não sua morte. Na morte de Jesus, Deus faz a experiência da morte, uma experiência autêntica e não aparente. Se não tivesse morrido não teria se encarnado realmente e sim aparente. Se não tivesse assumido a condição humana na plenitude não poderia existir redenção (se não tivesse passado pela morte não teria sido redimido). Na encarnação o Deus imortal se torna mortal e por isso é que deveria morrer, afinal é condição de todos os seres humanos. 

As causas têm dois sentidos, são eles: político e religioso. 

Político por ter conseguido seguidores e foi aclamado Rei, assim torna-se ameaça para o Império Romano e colocava em xeque o reinado de Roma e ao mesmo tempo afrontou muitos judeus porque eles tinham como Rei somente Deus e surge um galileu (região que o judaísmo era misturado com outros povos) alegando esse reinado. 

Religioso porque se equiparou ao próprio Deus, isso era uma blasfêmia para os judeus; perdoar pecados era algo único de Deus e Jesus ao perdoar pecados se colocava no mesmo nível de Deus (para um judeu isso é uma grande blasfêmia).
A morte foi a culminação de seu propósito; sua coerência como pregador do Reino. Não atenuou o discurso, foi coerente ao projeto de vida diante das circunstâncias. A ressurreição é a “morte da morte” é Deus que manifesta diante da morte a resposta da própria morte, provando que a última palavra é a ressurreição. Na ressurreição há a aproximação do Reino que virá com a parusia.
Os relatos da paixão têm os mesmos fatos: horto das oliveiras, trasladação a Anás Caifás, apresentação no sinédrio, ida a Pilatos, ato da crucifixão, morte na cruz, a sepultura, ressurreição. Todos os evangelistas concordam com os fatos a divergência seria o dia se teria sido na Páscoa judaica (evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas) ou na véspera (evangelho de João), mas o importante é narrar o fato e não a cronologia. É um relato teológico e não jornalístico. 

Com a ressurreição de Cristo é que há garantia da nossa ressurreição porque é Ele quem inaugura essa nova categoria de vida. Assumir nosso lugar, desse modo a ressurreição é total. Deus intervém e se manifesta na história (hora do juízo). O “Adão” é finalmente ressuscitado pela ação de Cristo e simbolicamente entra no ventre da terra para conceder a ressurreição (no sentido autêntico de ressurreição é somente dado por Jesus) aos mortos. 

Fica claro a preocupação dos evangelistas com a mensagem teológica, soteriológica. Cristo era um desafio moral ao propor a pureza interior e não a exterior. Perdoando os pecados ele colocava o judaísmo em risco e apresentava uma imagem diferente de Deus: compaixão, ternura, misericórdia. Por ser um reformador foi visto como ameaça para o judaísmo.

Morrendo como maldito por ter sido suspenso no madeiro (segundo Dt 21, 23), mas agora dá novo significado para a cruz. De algo ruim e negativo se torna sinal de salvação e redenção. Historicamente os judeus foram responsabilizados pela morte de Cristo; contudo o importante não é saber o responsável e sim conhecer o fato como soteriológico e teológico. Com essa morte de Cristo, fica evidente sua ameaça para o sistema político e religioso e por isso morre consciente, não se esquiva da morte, tanto é que vai para Jerusalém porque sabe que lá é onde morrem os grandes profetas. E assume nosso lugar, por isso é que se pode concluir que Jesus tinha o mínimo de consciência soteriológica do sentido da sua morte, caso contrário estaria alheio à liberdade humana e seria destituído o seu teor salvífico.

Júnior Santiago é camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula