FILOSOFANDO A FILOSOFIA DOS OUTROS - Revista Camocim

sábado, 16 de janeiro de 2016

FILOSOFANDO A FILOSOFIA DOS OUTROS

Acredito que o saber filosófico é unitário e sistêmico, ou seja, é um pensamento sintético enquanto tematização da totalidade do real, das verdades primeiras, isto é, visão de conjunto, visão dos fundamentos; nesse caso temos em Hegel seu último grande representante (dica: olhe no Google se não o conhece).

Contudo, nos dias atuais, vivemos um processo de dissolução da filosofia, pois renunciamos a conhecer o todo. O nosso tempo perdeu completamente os referenciais últimos, não temos mais aquela “Razão unitária” característica da filosofia clássica; hoje só teríamos ruínas, fragmentos, cacos de razão espalhados por todos os pedaços, de uma razão que no passado se pretendeu una e sistêmica. Nosso tempo é essencialmente relativista e cético. A falibilidade das ciências na pós-modernidade é inconciliável com a pretensão da filosofia primeira que levanta a proposta de dar o fundamento último do pensar e do agir, portanto, de todos os outros conhecimentos.

A filosofia conforme pensada pela tradição, como ciência dos primeiros princípios do universo, ciência das justificações racionais últimas, parece ter chegado a um impasse. 

A Filosofia entendida como a “Grande Síntese”, a Razão, una e universal, dá espaço às múltiplas razões, às razões das muitas perspectivas diferentes (Nietzsche), às razões dos múltiplos horizontes (Heidegger), às razões dos múltiplos jogos de linguagem (Wittgenstein). A Razão no singular, una e única, cede lugar às múltiplas razões. A Razão abrangente cede lugar à pluralidade ilimitada de razões. Esta é a tese básica do pensamento pós-moderno. A filosofia hoje como articulação da razão abrangente perdeu sua evidência. No clima espiritual de nossa época as ciências empírico-formais são consideradas como a única forma de saber válido, em virtude de todo seu procedimento metodológico.
Nesse contexto, urge retomar a questão da filosofia. Na filosofia transcendental kantiana delineia-se, de maneira mais explícita, o que é próprio da reflexão filosófica e o espaço específico do conhecimento científico. Qual a tarefa e método próprios dessas modalidades de saber?

Uma resposta pronta e finalizada é arbitrária e ao mesmo tempo arriscada; por isso a reflexão é complexa como um todo. Em um contexto tão plural como o que estamos vivendo não cabe fechar horizontes de pensamento, entretanto considerar que tudo pode ser relativizado é uma temeridade onde não quero estar. 

E em um escrito tão pequeno como o de hoje, apenas o apelo kantiano é deixado como mensagem: saiamos do sono dogmático que nos inebria. Sim, dói, mas vale a pena!

Júnior Santiago é camocinense, graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.