
Para se chegar na cidade que fui designado, são necessárias mais de trinta horas de ônibus de Goiânia (onde moro atualmente) até a cidade de Santa Inês (Maranhão); estando em Santa Inês ainda foi preciso viajar mais duas horas em um pau de arara.
Foram quinze dias onde tive a chance de estar junto de comunidades rurais. Em mais de uma dessas comunidades rurais não há saneamento básico. As necessidades fisiológicas são feitas do modo mais rudimentar possível. O calor de quase quarenta graus é constante. A economia de água é uma realidade aprendida desde a infância. Não existe sinal de celular, muito menos sinal de internet.
Ao me deparar com essa realidade fiquei chocado. E credito que o choque aconteceu porque de um dia para o outro precisei sair de onde estava e partir para uma situação oposta à minha. Como ficar sem sinal de celular?
Não havia muito tempo para adaptação; ao contrário, era importante agir o quanto antes, dentro das forças que se tinha e dentro da proposta que foi colocada: viver a missão de cristão. Missão de alguém que propôs para si mesmo ecoar os ideais de Cristo onde quer que fosse enviado. Era chegado o momento de encarar o desafio de frente e simplesmente pedir para Deus que toda a teoria estudada nos livros finalmente fosse vivida.
E muito mais do que teorias ou tratados teológicos Deus pedia a minha presença integral no lugar que fui designado. Como noviço não tem como ficar tanto tempo longe dos meus superiores ou das funções que o noviciado dos fissionianos coloca; e justamente por isso é que foi uma “missão intensiva e intensa”. Sem tempo para perder.
E hoje, depois de passados esses dias em Alto Alegre do Pindaré; posso conferir que essa experiência me enriquece como ser humano, como cristão, como católico. Se não tinha tempo para perder percebo que ganhei desde o momento que cheguei ao Maranhão.
Ganhei a chance de olhar para pessoas. Ganhei a chance de ficar dias sem celular e perceber que vivi até o ano de 2008 sem um aparelho desses. Ganhei a chance de conhecer pessoas, vidas, histórias. Hoje, mostro que fui eu que aprendi muito mais do que ensinei.
Hoje ao conferir minhas memórias sobre esse assunto me vejo como: Um pombo que pousou num galho e refletiu sobre a existência da vida e da fé.
Júnior Santiago