HUMANIDADE DESUMANIZADA - Revista Camocim

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

HUMANIDADE DESUMANIZADA

Ao contrário do que muitos pensam o século XXI não é nem de longe o mais sangrento da história em números de mortos nas tragédias de massa provocadas pela “humanidade civilizada”. O século XX, por exemplo, segundo estimativas com as duas guerras consideradas mundiais, fizeram cem milhões de mortos, no máximo uns cinco milhões a mais; gulags na Rússia mais dez milhões; campos na China outros vinte milhões; temos ainda guerras do Vietnã, Golfo e todas as outras que os americanos gostam de criar para se sentirem superiores, ficam em torno de vinte milhões. Somadas dão uma estimativa de cento e cinquenta e cinco ou cento e sessenta milhões de mortos. 

E ainda defendo a teoria que em número de mortes de inocentes os séculos XVI e XVII ainda são os campeões nessa categoria; ora, armados apenas com machados e espingardas portugueses e espanhóis dizimaram na América Latina mais de cento e sessenta índios. E junto com Portugal e Espanha: os franceses, holandeses, ingleses escravizaram e mataram mais setenta milhões de negros da África; somando dá duzentos e trinta milhões de mortos em somente dois continentes inocentes em prol do quê mesmo? Isso porque não decidi contar com o número de aborígenes mortos na Austrália e das vítimas que a tão “amada” Revolução Francesa fez. Em suma a história da humanidade parece mais um campo de guerra.

No entanto as tragédias que temos visto ultimamente pela televisão, internet, rádio embora matem uma quantidade bem menor de pessoas, elas são mais destruidoras que as outras. 

No ano de 2001 o atentado às torres gêmeas do World Trade Center fez com que o “Império” fosse atingido pela primeira vez em sua história. Ou seja, o tão poderoso e mais “vencedor de Guerras da História” (que título horrível) império americano era atingido e assim mostrava que era vulnerável como qualquer outro país menosprezado pela grande potência americana. Com o fatídico e esperado declínio do império americano veio também à sensação de insegurança gerada pelos radicais terroristas vindos da religião muçulmana. Lembremos que a sensação de insegurança também já acontecera décadas antes no ocidente com a famosa Guerra Fria (aos que não conhecem busquem no ‘Google’). Mas voltando à sensação de insegurança que os fundamentalistas islâmicos têm deixado em nossos tempos. Percebe-se que até agora não vimos nenhum atentado atingir diretamente um líder das nações ocidentais. George Bush em momento algum teve sequer um “traque” na porta da casa dele; nem Barack Obama, Sarkozy, Berlusconi, Ângela Merkel. 

As bombas e tiroteios são feitos em locais públicos. Estações de metrô, estádios de futebol, casas de show (concentração de pessoas). Os autores de atentados são bem mais espertos do que imaginamos. Ao invés de “simplesmente matar” eles disseminam o medo. Divulgam e ecoam a insegurança entre as pessoas comuns. É assustador imaginar que a qualquer momento em qualquer cidade grande do mundo ocidental (Paris, Roma, Moscou, Madri, Nova York, Berlim, Tóquio, São Paulo) uma bomba pode explodir e eu um mero cidadão comum morrer. 
O pânico é ecoado por todos os lados. Nas mídias sociais são feitas correntes de oração; os jornais espalham os detalhes; os mais sensacionalistas fazem repercutir suas teorias de conspiração. 

Lembro que a frase: “Je Suis Charlie” foi propagada no início do ano por todos os veículos de comunicação, gerando uma comoção mundial; agora é “Pray For Paris”. Pergunto: qual será a próxima?

Espero que não seja: “Luto Pela Humanidade”. 

Por Júnior Santiago - Camocinense, graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.