Não é novidade pra ninguém que o cearense é gaiato por natureza. Incrível como nós do Ceará temos essa vocação para o humor e ao mesmo tempo um grande pioneirismo. E foi partindo do pressuposto que combina humor e iniciativa que nasceu nas terras do nosso querido estado o movimento batizado de “Padaria Espiritual”.
Foi no longínquo ano de 1892 que os primeiros passos, versos, pensamentos e risadas daquele movimento que reunia pintores, poetas, músicos e escritores cearenses na Praça do Ferreira em Fortaleza. A ideia inicial era a de despertar o interesse nas pessoas para a literatura e as artes em geral. E teve em Antônio Salles o primeiro responsável pela ideia de criar e batizar esse movimento tão peculiar, tão gaiato de ser, tão “Ceará Moleque” que somos.
Os textos e conclusões das reuniões do grupo da Padaria Espiritual eram publicados em um jornal chamado: “O Pão”. Era nesse periódico que alimentava a todos das ideias, pensamentos e opiniões genuinamente cearenses. Era através das publicações trazidas no “Pão” que a cultura do Ceará conseguia se desenvolver e se difundir por nossas terras. Dentre os membros pode-se destacar: Lívio Barreto, ele foi um poeta nascido em Granja e que depois de ingressar na Padaria Espiritual casou-se e foi morar com a esposa em Camocim e de nossa bela cidade enviava seus poemas para que fossem publicados no jornal “O Pão”.
Ali começava a ser alicerçado o orgulho do povo do Ceará diante do Brasil. Mostrava a nossa resistência frente àquilo que impunham às províncias mais afastadas do grande centro daquela época. A consciência da valorização daquilo que é próprio da nossa terra e cultura; somos cearenses resistentes que dessa vez mostrava o orgulho de não copiar nada dos outros e sim expor o genuíno de nossas terras, tradições, verbetes e história.
A influência desse movimento para a formação do povo cearense em sua época foi muito grande. Foi também a Padaria Espiritual responsável por impulsionar a fundação da Academia Cearense de Letras em 1894, servindo de modelo para as outras que viriam a ser fundadas; inclusive para Machado de Assis decidir fundar a própria Academia Brasileira de Letras (fundada em 1897) sendo assim a Academia Cearense de Letras é mais antiga academia de letras do Brasil.
Nossa “Padaria Espiritual” também serviu de molde para que no ano de 1922 os escritores: Mário de Andrade, Oswald de Andrade junto com a socialite Iolanda Penteado resolveram montar a Semana de Arte Moderna em São Paulo. Diga-se de passagem, que aquelas já eram ideias debatidas a mais de vinte anos dentro da Padaria Espiritual (uma pena que naquela época não havia as leis de direitos autorais de hoje).
Em suma, gostaria de tornar esse movimento tão importante para nós cearenses algo mais conhecido e familiarizado por nós cearenses. Não podemos deixar perdido esse manifesto tão importante e influente para a cultura de nossa gente, por apenas digo: E viva
a Padaria espiritual!
Júnior Santiago é camocinense, Graduado em filosofia chancelado pela UFG e atualmente faz teologia na PUC Minas Gerais. Congregação São Pedro Ad Víncula.
