
Grijalba ficou uma semana verificando as condições financeiras de um vendedor de peixe. Passou a perguntar se ele não queria comprar uma bicicleta cargueira de sua propriedade, que havia recebido em pagamento de uma conta e ele o venderia por R$ 300,00 (trezentos reais), ficando o mesmo interessado. No dia seguinte, o vendedor de peixe foi até ao seu bar e disse que havia desistido da compra da bicicleta. Então, Grijalba lhe perguntou: "Meu amigo, você não vai querer a bicicleta?". Ele respondeu: "Não senhor, eu não tenho condições.". Grijalba insistiu: "Mas você não é um vendedor de peixe?" E ele disse: "Seu Grijalba, eu tenho vontade de possuir uma dessa, mas eu não tenho condições.". Então, Grijalba lhe disse que vendia parcelada. Ele disse: "Seu Grijalba, o meu dinheiro é pouquinho e mal dá para eu comer!". Grijalba insistiu novamente: "Mas pense em outra maneira que eu vendo pra você!". Ele falou: "Seu Grijalba, olhe pra minha bicicleta que ali está! Guidão de uma cor, para-lamas de outra cor, mas Grijalba continuou insistindo para ele fazer um esforço e comprar a bicicleta, que para ele não tinha utilidade. Uma tarde, ele voltou ao bar e voltando ao assunto disse: "Seu Grijalba, meu peixe eu vendo até fiado para não perdê-lo por ser mercadoria perecível e arruinar!".
No dia 26 de setembro, ele veio novamente e ficou olhando para a bicicleta, com uma expressão humilde, olhar triste e simples. Na calçada estava a sua velha e surrada bicicleta, com a caixa vazia na garupa. Grijalba lhe perguntou: "E aí, vendeu todo o peixe hoje?". Ele respondeu: "Vendi seu Grijalba, mas uma parte foi fiado, mas são fregueses bons!". Grijalba voltou a lhe perguntar se não ia comprar a bicicleta. Ele então disse: "Não insista, vontade eu tenho e lhe agradeço por tentar me ajudar, mas eu serei sempre seu grande amigo por me oferecer e para eu pagar do jeito que eu quiser! Mas a comida dos meus filhos eu não poderia tirar do que ganho, para não passar necessidade!" Ele então sentou-se numa mesa sozinho e para relaxar do trabalho, tomou uma cerveja pequena! Ali permaneceu como se fosse uma pessoa sozinha e sem falar nada com ninguém. Grijalba sentou-se a uma mesa próxima, onde estavam seus fregueses e amigos: Capitão Arraes, Cláudio Cidade, Luciano do Sindicato e outros, passando a observar o vendedor de peixe que permanecia solitário em sua mesa, sem dar uma palavra. Grijalba então lhe convidou para aproximar-se da mesa em que estava com os amigos e ele respondeu que ia ficar ali mesmo sozinho. Grijalba insistiu: "Cidadão, você vai ficar nessa mesa sozinho? Aqui, todos que frequentam esse bar são amigos!" E ele disse: "Deixe-me aqui! No que Grijalba insistiu novamente: "Sente-se aqui!".
Ele então olhou para um lado e para o outro e veio se aproximando, trazendo sua bebida e sentando-se em uma cadeira desocupada. Pareceu um estranho na mesa. De repente, Grijalba pediu a atenção de todos os presentes e perguntou a ele: "Senhor, como é, você não vai comprar a bicicleta ou não?". No que ele mais uma vez respondeu: "Não senhor, eu não tenho condições. Deixe de me perguntar isso, Seu Grijalba!" Grijalba então dirigindo-se a todos que estavam na mesa disse: "Senhores, esta bicicleta eu quero vender pra esse moço mas ele não quer, mesmo eu facilitando o seu pagamento! E para não deixar o vendedor de peixe constrangido disse: "Olhe, eu disse que lhe vendia a bicicleta e você disse que gostaria de comprá-la e não tinha condições, mas eu vou lhe dizer uma coisa: "Há muito venho lhe observando e por você ser uma pessoa pobre e trabalhadora, decidi que a bicicleta é sua!" Ele então, por ser um cidadão humilde, ficou trêmulo e Grijalba continuou dizendo: "A bicicleta é sua!" Ele sem querer acreditar no que ouvia peguntou: "Mas por quê?" Grijalba respondeu: "Porque em todos os meus aniversários, eu faço uma caridade, ajudando a uma pessoa necessitada e merecedora! Por isso eu lhe observei por vários dias, para poder lhe presentear! Insisti na venda para poder conhecer melhor as suas condições. Por isso escolhi você para lhe presentear com algo que vai ser de muita utilidade para você no seu trabalho!" O moço vendedor de peixe não queria acreditar e perguntou três vezes ao Luciano do Sindicato, se tudo aquilo era realmente verdade. Grijalba então lhe respondeu: "Sim, é verdade. Sou homem e aquilo que eu decido ninguém impede e, na sua saída, pode levar a bicicleta!" Ele então respondeu que ainda não estava acreditando e mudando de cor e com a voz trêmula agradeceu dizendo: "Seu Grijalba, na hora que você quiser um peixe, eu trago para o Senhor!" Grijalba lhe respondeu que no dia que quisesse um peixe, iria lhe comprar e pagar normalmente, no intuito de lhe ajudar. E que não era por ter feito o que fez que iria lhe explorar, salientando ainda que aquele gesto não tinha outra intenção senão a maneira de ajudar a alguém merecedor, dizendo ainda que não era político, nem candidato a nada e sim porque gostava de sempre poder ajudar as pessoas, sem fins lucrativos. Finalizando suas palavras, Grijalba pediu desculpas aos amigos presentes por não ter tido condições de realizar seu aniversário da maneira que sempre o fez, agradecendo ainda a todos que o tem como cidadão e não um amigo por política, pois política pra ele, só na hora dar seu voto, salientando ainda que na amizade o que vale é conviver sempre na amizade de todos. Disse ainda que não fazia isso para pedir votos e sim por uma promessa que havia feito de não querer presentes e que o seu maior presente era a felicidade e o prazer de ajudar a uma pessoa carente.